junho 30, 2009

Considerações sobre a Maratona do Rio

Pois é... The first one... A primeira maratona.

Teria muitas e muitas coisas a dizer. Ontem fiz um breve resumo do que foi a prova. Porém acredito que esta foi uma experiência bastante particular e dada a imensa carga emocional que uma maratona demanda (pelo menos foi o que aconteceu nessa primeira corrida), penso que cada um deve tentar buscar a "sua" maratona. Mas isso será assunto de um próximo post, mais filosófico que este.

Neste post quero deixar apenas mais algumas impressões do que aconteceu neste final de semana em terras cariocas.

Como em todas as coisas da vida que realizamos pela primeira vez, nesta maratona aprendi muitas coisas sobre corridas, alimentação, psicologia do esporte, entre outros tópicos. Era natural sentir um certo temor antes, afinal não havia corrido essa distância antes. Em minha primeira competição de 10 km eu já havia percorrido essa distância em treinos inúmeras vezes. Na meia-maratona foi da mesma forma. Mas nessa clássica distância dos 42.195 metros seria diferente. Havia feito apenas dois treinos de 32 km e um 34 km. Apenas 9 semanas de treino após a sucessão de eventos do início do ano (férias na Argentina e Chile e tratamento renal que me paralisaram por quase 3 meses). Esta maratona foi uma verdadeira prova de fogo para minha força de vontade, para a minha autodeterminação e para minha filosofia de treinamento (não sou formado em Educação Física, mas tenho certeza que entendo muito mais de fisiologia do esforço do que muito mané com diploma, graças aos livros técnicos que leio continuamente desde os 15 anos de idade).

Tudo era novidade. Que roupa usar para sentir-me confortável? Qual meia? Qual tênis? Qual protetor solar? O que comer antes e durante? Qual ritmo empreender? Caminhar nos postos de hidratação? Deveria ter expectativa de tempo de conclusão da prova? Como saber se alguma dor mereceria atenção a ponto de me fazer desistir da prova? Como saber o que é extamente a dor?

Inúmeras e incontáveis questões que responderei (algumas) aqui:

Que roupa usar para sentir-me confortável?
Com bastante antecedência defini qual seria o vestuário, sendo imprescindível testá-los antes em treinos de mais de 30 km. Decidi-me por:

Camiseta sem manga em poliamida (Nike Pro), tomando cuidado de proteger os braços com bastante filtro solar já testado também e Micropore nos mamilos para evitar o sangramento que o atrito com a camiseta sempre provoca em corridas longas.

Bermuda em lycra Nike Pro, na verdade uma bermuda de compressão desenhada para futebol e não para corridas, pois não havia encontrado em Belo Horizonte nada que fosse tão confortável quanto este produto. este produto foi fundamental para evitar assaduras nas virilhas, que são facilmente produzidas em quem tem músculos adutores (aquele da virilha) avantajados como é meu caso.

Boné Asics de cor branca, muito fresquinho e de rápida secagem.

Cueca da sorte (esteve em cumes andinos e outras montanhas do Brasil, específica para eventos especiais como esses), de poliamida. Afinal um pouco de superstição não faz mal a ninguém.



Modelito do Pepe (já um pouco torto, por volta do km 41)

Qual meia?
Utilizei meias de compressão Kendall 20 mmHg, cor preta, testada e aprovada em todos os treinos longos e alguns de subidas. Credito a ótima condição das panturrilhas que eu apresentava ao final da prova a essas meias. Realmente não parecia que eu havia acabado de correr 42 km. Fresh Legs de verdade. Auxiliam no retorno venoso e será alvo de demorado post em breve. Antes de calçar a meia eu besuntei meus pés com vaselina em pasta.

Qual tênis?
Mizuno Prorunner 11. Não incomodou e protegeu meu pé a ponto de eu cruzar a linha de chegada sem dores, bolhas ou qualquer outro dano. Fez par perfeito com as meias desde os treinos.

Qual protetor solar?
Sundown FPS 30. Nada anormal e não vi necessidade de gastar fortuna em protetor solar. Deu conta do recado nas condições atmosféricas da prova (sol fraco e intermitente, com períodos de nublado e grande umidade do ar).

O que comer e beber antes e durante?
Café da manhã sem frescuras no hotel: pão branco, geléia, queijo branco e suco de abacaxi. Para a prova eu levei 6 Power Gel, 2 cápsulas de BCAA, 2 doses de Electro ++ (Nutrilatina) e algum dinheiro para comprar comida ou bebida durante a prova. Tudo isso acondicionado em um Money Belt Deuter. A idéia era consumir um sachê de gel a cada 40 minutos, tomar os BCAAs no Km 25 e os Electro ++ (pastilhas de sais mineirais) apenas se me sentisse fraco. Além disso tomaria água em todos os postos de hidratação bem como os isotônicos que também seriam distribuídos pela organização. A estratégia andou bem até o Km 28 quando simplesmente "apaguei". Meu estômago não aceitava de forma alguma os géis (que são extremamente ácidos). Por outro lado eu precisava de energia. Assim que cheguei no Leblon, por volta do Km 29, comprei um pacote pequeno de batatas fritas. Foi a salvação. Acredito que a grande quantidade de sódio, o carboidrato, as gorduras e, principalmente, o sabor diferente do produto me deram um "up". Acordei na hora e passei a imprimir o meu melhor ritmo em toda a prova, com passagens dignas de provas de 10 km. Esqueci os géis e passei a administrar apenas com as batatinhas. Cheguei inteiro ao final. Repensarei seriamente minha alimentação durante essas provas longas.
Qual ritmo empreender?
A idéia inicial era fechar a prova em pelo menos 4h30min. Seria perfeito, sinal que tudo teria andado bem. No entanto o chilique que meu estômago teve no km 29 arruinou a idéia e passei a desejar apenas completar a prova. Logo que recuperei minha melhor condição segui em passo prudente para fechar 16 minutos acima do previsto, ainda assim ótimo para um estréia, principalmente se considerar a quantidade de pessoas que chegaram no final da prova precisando de cuidados médicos.

Caminhar nos postos de hidratação?
Caminhar em todos postos, com certeza. Para que a pressa? Caminhar desestressa os músculos por mudar sua solicitação, reduz os batimentos cardíacos e dá um ânimo. Em minha estratégia isso foi ótimo.

Deveria ter expectativa de tempo de conclusão da prova?
Apesar de saber que em uma primeira maratona nosso desejo deve ser apenas completar. Mas inevitável não querer correr bem. Corri o suficiente para chegar inteiro. Senti-me feliz por completar em 4h46min e inteiro, andando e sorrindo do que em 4h15min e passando mal. Para mim a corrida é diversão e não sofrimento.
Como saber se alguma dor mereceria atenção a ponto de me fazer desistir da prova?
Esta pergunta ficou sem resposta. Senti apenas algumas pontadas no posterior da coxa direita, que parecia querer se contrair em uma cãimbra, o que não se concretizou pois passei a caminhar por alguns segundos, comprimi e relaxei a região com massagem rápida e toquei o pau em frente. Conclusão: respeitar os sinais do corpo logo que eles aparecem e agir rápido.



Enfim, amigos. Muito ainda a aprender. Muito ainda a passar para quem lê por aqui. Especialmente no que se refere a alimentação para um maratonista, o que tenho certeza que influi tanto ou mais quanto o treinamento.

Lembro ainda que a data desta maratona, 28 de junho era significativa para mim. Completava 100 dias sem comer carne de espécie alguma. Vitória dupla!

E nessa semana seguirei com os "bastidores" da maratona. Os amigos que fiz, alguns que revi, a vida "corrida" de quem viaja final de semana e mal tem tempo de fazer outra coisa que não seja correr e dormir no hotel.

Um grande abraço!!!!

2 comentários:

  1. Pepe, tudo blz?
    Cheguei aqui pelo blog do Jorge.
    Cara, só tenha que parabenizar pela qualidade do que vc escreve, sensacional. Já está incluido nas minhas leituras.
    Gostei muito das dicas e dos materiais indicados por vc.
    Vou testar as meias de compreesão. Eu sinto muito cansaço nas panturrilhas no pós treino longo.
    Valeu mesmo !!!
    Está add.
    Abs e parabens pelo resultado tb.

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  2. Seu talismã...
    http://www.gartic.com/imgs/mural/li/line_maria/1230355221.png
    (tentei encontrar uma como a da bruxa do 71 mas nao achei... hehehe!)

    Mas falando sério:
    esse post foi simplesmente excelente, pois poucos se prestariam a esse trabalho descritivo e muitos podem se beneficiar com essas informações... (particularmente falando, isso tudo tem sido bastante esclarecedor pra mim, de boa mesmo!)

    Bom, chega de rasgação de seda, né?? rs...
    Você tá de parabéns, Volpão, legal demais! ;-D

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