fevereiro 28, 2010

Sobre Egos e Montanhas (e, claro, corridas e redes sociais)

Desde os bancos escolares ouvimos dizer que o que nos diferencia dos outros integrantes do reino animal é o fato de raciocinarmos. Isso inclusive nos daria o direito de consumir (comer mesmo) outras espécies sem culpa. Mas o post não é sobre a barbárie do consumo de carne e sim sobre a utilização dessa "racionalidade" para outro fim, que é o de elevar-se a si próprio pelas mais diversas razões.

Com elevar-se a si mesmo eu quero dizer ultrapassar o limite do amar a si mesmo. Seria o caso de figuras que vivem sob a necessidade imperiosa da aprovação alheia, seja através de suas realizações merecedoras de aplausos (no caso dos realmente talentosos), seja através dos habilidosos com palavras no melhor estilo "bom-moço", prestativo, político, aglutinador e divertido, seja lá o que essas coisam signifiquem de fato.

Meu interesse por essa característica única do ser humano me acompanha desde pequeno, quando das minhas primeiras batalhas com colegas de classe pelo primeiro lugar ao final do bimestre (sim, fui ótimo aluno). Ter uma banda de rock com quatorze anos, começar a competir em corridas com dezesseis, ser um conhecido bebedor de uísque aos dezoito e ser triatleta (e campeão na categoria) aos dezenove também teve a ver com ego. Além do prazer que essas atividades me proporcionavam havia também a adulação alheia e a sensação de estar "acima" da média, seja lá o que isso signifique também.

O tempo vai passando e a gente amadurece. É bom estar no topo principalmente quando não temos ainda noção que lá do alto o tombo é maior. E, claro, um dia essa farsa chamada ego frágil cai.

Entre os vinte e os trinta anos de vida passei buscando esse equilíbrio entre fazer o que eu gosto e de alguma forma ser útil com isso para alguém. Nas atividades profissionais que escolhi (promover saúde e qualidade de vida de forma honesta para as pessoas), no meu envolvimento com ambientalismo, na minha redução de consumo e, uma das mais relevantes, pelo gosto de escrever.

Estamos vivendo em um mundo de super informação. Hoje qualquer um pode ter um blog, um twitter, um orkut e participar de zilhões de sites de redes sociais, colocando ali parte de sua vida para ser exposta de uma forma que seria impensável (e questionável também) dez anos atrás. Estou entre essas pessoas que se utilizam desses meios (veja o canto direito deste blog) para estar em contato com um mundo além da fronteira do visual e do palpável.

Através do uso positivo dessas ferramentas eu consigo tornar esse texto acessível a quem quiser lê-lo, sem depender de ter tanto talento assim para escrever na mídia impressa, apesar de já tê-lo feito também (olha meu ego, rsrs). Este meu espaço aqui no blog é livre para quem quiser acessar. É possível ver fotos minhas no Picasa, saber dos meus gostos pessoais no facebook ou atualizações quase instantâneas da vida no Twitter.

Até que ponto essa é uma necessidade de me afirmar como George Volpão? Eu tenho já a minha resposta para a sentença. Muitas pessoas parecem não estar preocupadas com isso e eu realmente gostaria de me incluir entre elas e filosofar menos.

Seria realmente uma necessidade escrever todos os dias em meu blog que eu corri setecentos e cinquenta e oito quilômetros em uma semana? Seria mesmo ótimo eu receber elogios de quem mal conheço porque eu disse palavras bonitinhas no twitter? Tem mesmo graça ver uma foto minha postada em algum lugar despertar invejinha? Alguma mensagem escrita em uma rede social realmente dá direito a alguém querer saber mais da minha vida pessoal de maneira insidiosa e fútil?

Precisamos que nos amem tanto assim pelo que escrevemos, que fotografamos, que viajamos, que visitamos, que demonstramos?

Com a chegada dos trinta anos de vida as coisas foram se tornando mais claras para mim. Tenho um blog e essas coisas todas de redes sociais porque, sim, gosto que pessoas que me são caras, tenham essa forma de contato comigo. Gosto também de poder inspirar. A satisfação realmente é grande quando recebo um mail (prefiro os contatos particulares, sem pirotecnias) de alguém me dizendo que fui útil, que inspirei. É através de nossos exemplos que podemos fazer um mundo melhor e não apenas com palavras bonitinhas. Escrever aqui é uma forma de atingir pessoas que podem estar justamente esperando por isso.

Isso para não falar que esse é um meio de difundir boas idéias, se socializar, fazer parcerias (tenho empresas que me apóiam e divulgá-las em espaços como esses é parte do processo) fazer amigos e, porque não, até mesmo encontrar um amor.

Gosto de escrever sem frescuras, sem levantar temas da moda, sem apelos comerciais. Gosto de ser verdadeiro porque sou verdadeiro. Gosto dos tombos que levei, porque com eles que baixei a bola.

Ter fracassado em minha tentativa de subir o Cerro Plata tem a ver com ego. Mal sair do acampamento base do Cerro Plomo (amarelei) no Chile na mesma excursão também teve a ver com ego. Aprendi a respeitar muito mais a montanha com isso. De que adiantaria ter tentado se as condições não eram as melhores para um iniciante como eu? Não ter concluído a Travessia da Serra Fina em doze horas em 2005 também. Para mim esses aprendizados são muito mais relevantes que o cume do Cerro Franke, 5100mt (meu primeiro cume em montanha andina), que as mais de cem noites que já passei acampado na Serra do Mar, que ter corrido 84K em dois dias no Desafio Praias e Trilhas.

Ser admirado pelos fracassos e pela capacidade de levar a vida adiante após eles também é um bom caminho.

Nos meus tempos de montanhismo intenso tive a oportunidade de conviver com figuras cujo ego era muito maior que as montanhas que elas escalavam. Ainda hoje acompanho essas brigas de foice no escuro, já que sou assinante de algumas listas de discussão do assunto. Apenas observo. E vou para a montanha quando eu posso.

O mundo da corrida é muito, mas muito mais aprazível. As pessoas, em geral são muito mais cordiais e acessíveis, não se gabando de conquistas duvidosas, como eu via principalmente entre escaladores. Ninguém quer saber mais que o outro nem impor sua opinião. Por isso me sinto entre amigos, realmente em casa.

Claro que nem tudo é perfeito e vez por outra observo coisas desagradáveis, mas que com certeza incomodam mais essas pessoas do que a mim.

No fim das contas a gente sempre encontra a trilha correta, o bom caminho e o caminho da verdade, o tal Caminho do Meio.

Amigo leitor, blogueiro, twitteiro, orkuteiro ou simplesmente amigo: É bom tê-lo aqui.

Beijos e abraços.

"Das brigas que ganhei nem um troféu como lembrança pra casa eu levei. Das brigas que perdi, essas sim, eu nunca esqueci".

3 comentários:

  1. Eu sou um grande entusiasta do caminho do meio. Mas isso foi sempre algo natural. Minha índole é assim e me sinto bem. Radicalismos não me apetecem.

    Belo post!

    Abraços!
    Rodrigo Stulzer
    transpirando.com

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  2. Adorei o seu post! Nele encontrei muitos dos mesmos pensamentos que tenho cultivado e também a comprovação de que amadurecer é bom demais! Quantas vezes perdemos tempo escondendo uma falha ou um defeito... quando na verdade o que mais vai acrescentar à vida dos outro são as dificuldades que enfrentamos. "Quando evitamos o sofrimento legítimo que surge de resolver problemas, também evitamos o crescimento que esses problemas nos exigem." Scott Peck

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  3. Com certeza ... a "MESMICE" é algo que se EMPLODE por si MESMA ...
    Pois quem acha que ficar ali no cantinho curtindo aquele OSTRACISMO... achando que a VIDA é apenas aquilo, um dia pode ter uma PÉSSIMA supresa e ser ARRANCADO de SUA PAREDE DE OSTRAS ...

    Por isso adorei correm em BERTIOGA - MARESIAS e VOU CORRER EM PARANAPIACABA ...

    QUERO MUDAR ... E VIVER OUTRAS COISAS!!!

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