maio 25, 2010

Breve Relato sobre George, a K42 Bombinhas e o Aquecimento Global

Já no local da largada eu me assutei: "Cacete, como está alto esse mar", comentei com quem já estava alinhando para o início da prova. Em 2009, a praia central de Bombinhas estava com o mar baixo e uma boa faixa de areia para correr. Neste ano, não passei mais que 100 metros de competição para molhar os pés na água que insistia em beijar os pontos mais "altos" da praia. A multidão era a mesma, pouco mais de 100 inscritos na maratona, outros no revezamento e mais alguns na prova de 12K, todos largando juntos.


A areia estava pesada devido às chuvas dos dias anteriores e ao mar que insistia em ficar mais alto que o normal. Passados os primeiros quilômetros, nas praias de Bombinhas e Bombas, tudo foi se ajeitando e se configurando para ser uma prova bem mais difícil que no ano anterior. Ainda estava com um grande sorriso, conversando com os atletas (um deles havia me reconhecido da matéria da Contra Relógio) e curtindo aquela planura toda dos seis quilômetros iniciais.



Uma certa chuva tímida se fazia presente, até o início da subida do Morro da Antena. O "Vietnã" começava ali. Nos primeiros metros morro acima veio uma chuva torrencial, que arrastava ladeira abaixo tudo que estava pela frente. Estava difícil até mesmo para enxergar o rumo. Isso durou pouco, mas durante toda a prova o clima nos ofereceu um misto de chuva, chuvisco, sol tímido e vento frio.

O trecho de trilha que leva às praias ocultas de Bombinhas estava bem úmido e perigoso, muito mais escorregadio do que eu havia experimentado em 2009. Após sobreviver sem danos a esse trecho, vieram os trajetos mais planos, já nas praias. Como curiosidade, o rio em que o Giliard Pinheiro, campeão em 2009 e 2010 aparece em um vídeo saltando no ano anterior, neste ano estava com mais de 10 metros de largura e água pela altura das coxas. Marzão alto mesmo.

Passei os 21K na praia de Canto Grande com aproximadamente 2h50min. Estava mais cansado que no ano anterior e quase 15 minutos "atrasado". Ali permaneci por cinco minutos, batendo papo e me recompondo.

Na trilha que nos conduzia à Praia da Tainha, o visual era belíssimo, como fora no ano anterior. Já na Tainha, vem o desespero: a subida do Morro dos Macacos é, na minha opinião, um ponto chave da prova. Neste trecho senti todos os tipos de dores imágináveis: pernas, cabeça, pescoço, braços, mente... Um posto de água e minhas batatas fritas me ajudaram na recomposição quase no cume do morro, bem como uma pílula salvadora compartilhada pela Patrícia, maratonista experiente com quem conversei durante parte da prova.

Morro abaixo, minha "luz" foi voltando, e ao chegar nas praias de Conceição e de Mariscal eu já estava "novo". E aí a constatação. Mar alto de verdade, obrigando a organização a desviar o trajeto original da prova - sempre pela areia da praia. Corremos, portanto, por quase um quilômetro pelas ruas até poder voltar à beira-mar. Aquecimento global? Hmmm. A ver.

Hora de colocar em prática a tática Desafio Praias e Trilhas 2009: correr descalço, quase na linha do mar. Muuuuito melhor, sem o peso dos tênis e meias encharcados. A musculatura sentiu-se aliviada. Foi, com certeza, o meu melhor momento psicológico da prova, talvez por ter uma expectativa de que este seria o trecho mais chato e monótono. Correr descalço, mesmo na praia, exige atenção onde você pisa e o tempo parece que passa muito rapidamente.

Logo veio a subida em asfalto que me levaria ao outro lado da morraria, chegando à Quatro Ilhas. Praia de areia bem fofa, mesmo assim eu conseguia correr sem problemas. A seguir, leve trecho em trilhas e em seguida rumo ao costão.



Com o mar alto, este trecho estava diferente do ano anterior, muito menos seguro. De toda forma, passei tranquilo, sem pressa. A subida que eu esperava ser mais difícil, aquela que me levaria ao Retiro dos Padres também não teve o mesmo drama do ano anterior.

Algumas cãimbras me fizeram lembrar que já estava fazendo força há mais de cinco horas mas não me impediram de continuar correndo.

Esse ano quase não caminhei nos trechos planos - o cansaço parecia menor que no ano passado. O ritmo havia sido mais lento devido às más condições do percurso, mas sentia-me mais forte e mais treinado.

Enfim, a passarela final, em madeira, lembrança de bons momentos de visitas anteriores à esta terra abençoada. Quase chegando ao pórtico final, amigos me dando força e um último sprint, pra sair bem na foto.



Cheguei tão inteiro como se tivesse participado de uma simples 10K. Esse mundo das provas longas é realmente fascinante e se vai do céu ao inferno e se volta ao céu em instantes.

E ainda rolou um tempo para curtir, junto ao mar, aproveitando a disposição que sobrava.


A lamentar apenas uma coisa: essa prova só é realizada uma vez por ano...

Beijos e abraços!

*Fotos: Raquel Hoefel e Yara Achôa

7 comentários:

  1. Grande Prova... Grande Onda... Grande Dia... Grande George!
    Abraços
    AP

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  2. Essa está na lista.
    Parabens pelo relato e pela prova.

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  3. O quê? George Volpão correndo descalço? Kkkk. O "Born to Run" está mudando mesmo sua vida! Bem vindo ao time!

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  4. parabéns pela prova! e sua narração, cheia de vida por conta dos detalhes preciosos, é inspiradora! ainda bem que essa prova só acontece uma vez por ano, ou eu já teria corrido pra me inscrever, motivada pela sua narrativa! rsrsrs

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  5. Opa!

    Legal George. Excelente relato!

    Também estive em Bombinhas. Fiz o revezamento (primeiro trecho) como "presente" de aniversário, exatamente no dia 22.

    A prova é cascuda mesmo, mas o visual é magnifico e ao final a sensação de dever cumprido é impagável.

    Fiquei levemente decepcionado com a organização. Esperava mais de um evento que se diz internacional. E não falo de "mimos" não. Falo de coisas básicas como sinalização, hidratação e a cerimônia de premiação. Tem muita coisa pra melhorar.

    Parabéns pela prova e pelo conteúdo do blog. Vou acessar com frequência.

    Nos vemos por aí.

    Boas corridas.

    Abraço.

    Julio

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  6. Como esperado: Excelente Relato!!
    Abraços
    Marcos

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