agosto 29, 2022

Medo de morrer

 Hola, que tal?

Pois é, sempre, ou quase sempre, do contra.

Quem me conhece um pouco mais sabe como "gosto" de contrariar padrões. E coloco entre aspas exatamente porque não é exatamente um "gostar". É como se o mundo me obrigasse a isso.

E o que tem isso a ver com o que escrevo hoje?

Tem a ver que a temporada de montanha 2022 aqui em minha região está acabando e só agora pareço estar sadio o suficiente para frequentá-la do jeito que eu gosto. Sim, do contra também nesse caso. Nem tanto por opção, mais por resignação. É o que tem.

Finalmente o corpo começa a dar sinais de maior resistência e força, graças ao já mencionado Pilates, à alimentação mais natural e ao cuidado que dediquei ao tratar esta minha última lesão, que se confirmou através de exame de ressonância magnética, tratar-se mesmo de uma fasceíte plantar no pé direito.

Integralista como me vejo, sei bem que não se trata apenas de cuidar do pé, da fáscia plantar propriamente dita. Tem muito mais coisa envolvida para que esta lesão se manifestasse. 

Toda a minha cadeia posterior do lado direito apresenta um desbalanceamento. Nas atividades de alongamento fica visível como este lado do corpo é menos flexível, mais tenso, mais rijo. Reflexo também de comportamentos e atitudes mentais que nada facilitam uma evolução neste aspecto.

Eu mesmo muitas vezes me vejo inflexível, tenso e rijo. Estar trabalhando este aspecto mental certamente também ajudou em uma recuperação mais rápido do que eu mesmo poderia esperar.

Logo, com um pouco ainda de dor no pé e uma certa inflexibilidade nas coisas da vida, vejo meu caminho nas montanhas sendo traçado novamente. 

Estou feliz com isso.

No último domingo 28 de agosto pude inclusive retornar às montanhas com um trote leve (após um sábado de corrida longa na cidade por 16 quilômetros, algo impensável apenas uma semana atrás).

Setembro se aproxima, a temporada das butucas também, mas amante da montanha que sou, não serão os insetos e tampouco o forte calor esperado para este verão que deterá o ímpeto de viver ainda mais nas montanhas.

Nos últimos tempos pude provar para mim mesmo que posso ir além da motivação. Posso ter disciplina. Ela que é tão necessária para o sucesso que busco. Que não tem a ver com glórias, pódios e recordes. Mas com experiências.

Não, eu não tenho medo de morrer. Em tenho medo é de não viver.

Uma excelente semana a todos!





agosto 22, 2022

Carta ao Volp

Esquece as modinhas, Volp. Não te deixa levar pela empolgação da vida digital. Tu sabes que o trail running não é mais o mesmo de quando iniciaste nisso 15 anos atrás. Neste final de semana que passou pudeste comprovar.

Correr em trilhas e por muitas horas nunca deixará de ser um dos teus grandes prazeres. Mas não te ilude achando que a inocência de outrora ainda possa ser encontrada nestes dias midiáticos.

Temos show business como regra e teu lance é outro. É corre libre. Tua essência é a liberdade e a camaradagem. Esquece os mortos, eles não levantam mais.

Sei bem que nunca será algo pessoal. Nunca será referente à fulano ou sicrano. Quem te conhece sabe que é mais sobre como o "sistema" se desenvolve, como as coisas se desenrolam. Nessa politicagem nojenta que vem lá de cima, nessa ânsia desmedida por parecer o que não se é, nessa letargia que afeta a sociedade atual que consome e se consome como se não houvesse amanhã.

Até porque, como diz a canção, "se você parar pra pensar, na verdade não há".

Mas será que não há mesmo, Volp?

Eu sei que tu sabes que na verdade, mas na verdade mesmo, há. Tu só não podes querer prever que seja sombrio ou ensolarado. Isso realmente não nos pertence, prever o futuro. 

Mas saindo dessa conversa filosófica sobre existência ou não de futuro, o que há de fato é o presente correto Volp? Nele estamos todos inseridos e guiados pelo senso comum, pelas convenções sociais que muito importantes são, concorda?

Esta é semana de UTMB, Volp, a Ultra Trail du Mont Blanc e suas incontáveis opções de provas e distâncias. Aquela prova que tu "descobriste" em 2008 e que foi vencida por um novinho magrelo da Catalunha e que viria a se tornar a maior referência da modalidade em todos os tempos, Kilian Jornet. Ali te encantaste com aquela vibe de desafio nas montanhas, algo que sempre apreciaste desde tua primeira visita ao Marumbi em 1995 com apenas 18 anos de idade.

Certamente é o mais midiático dos eventos no nosso querido Ultratrail. É uma exposição frenética tanto por parte dos organizadores, como por parte das marcas lá presente e, obviamente dos atletas que lá estão por merecimento, já que conseguir uma vaga para qualquer uma das provas exige mais que disposição e sorte.

Eu sei que tu, Volp, no fundo acha isso bastante positivo. Quem mal te conhece é que acaba julgando-te como viúva dos velhos tempos. Mas quem te conhece intimamente sabe o quanto te alegras em ver que esse crescimento todo tem um saldo positivo. 

É claro que todo crescimento gera dor também, mas são "dores do bem". É impossível progredir sem, infelizmente, deixar algumas coisas e algumas pessoas para trás. É o fluxo inexorável da vida. Não se pode ganhar sempre, Volp. Porque era isso que tu querias lá atrás, quando começaste 15 anos atrás. Tu querias mais provas, mais, atletas, mais opções de equipamentos. Aí está. 

Ok que junto com isso vieram o consumo desenfreado, as deslealdades, o doping, o impacto ambiental e as futilidades. Mas isso, tu sabes Volp, não é exclusividade do nosso Trail Running. É do ser humano e quanto a isso, nada podemos fazer. Nem Jesus pode.

Sei que desfrutarás esta semana mágica, o "sommet du trail mondiale". Estávamos ansiosos por acompanhar nossos amigos e nossos herois. É chegada a hora, Volp.

Então faz tua parte, manifesta tuas intenções e pensamentos, fala aos que dispostos estejam a isso e segue.

Afinal, quem faz o caminho é o caminhante ao caminhar.

Boa semana, Volp.



agosto 02, 2022

Lidando com Lesões

 Hola, que tal?


Não tenho vivido os dias mais fáceis da minha vida esportiva entre dezembro de 2020 e agora, agosto de 2022.

São quase dois anos sem a consistência idealizada, almejada e que infelizmente ficou no passado.

No último mês de 2020 sofri uma ruptura muscular nos músculos isquiotibiais da coxa esquerda, conhecido popularmente como posterior de coxa.

Não procurei tratamento correto (na verdade só descobri que se tratava de uma lesão grave após alguns meses), voltei a correr antes do prazo e tratamento ideais e acabei por atrasar bastante a recuperação.

No mês de março de 2021 uma nova torção do joelho direito que tem um LCA (Ligamento Cruzado Anterior) rompido, correndo Velódromo do Jardim Botânico de Curitiba. Incidente bobo, ao tentar desviar de um atleta parado no meio da pista enquanto eu imprimia uma boa velocidade em um treino intervalado.

Mais algumas semanas de molho.

No mês de julho de 2021 retornando aos treinos começo a sentir dormência e falta de potência em toda a cadeia posterior da minha perna esquerda.

Desta vez, consulta com especialista em coluna, exames de imagem e o diagnóstico: Protusão Discal entre L4 e L5 que estava pressionando nervos que fazem a conexão com a perna esquerda.

Tratamento é fazer fortalecimento, algo que, erroneamente, sempre acabei por subestimar, raramente fazendo alguma sessão específica.

Segui nos meses seguintes também sem muita motivação e estrutura de treinamento até o final de outubro quando decido voltar a levar a sério e correr novamente com acompanhamento especializado, junto à ML Mix Run do meu querido Manuel Lago, profissional do esporte lá do Rio de Janeiro.

No entanto, férias de 3 semanas no final de janeiro de 2022 me tirou novamente o foco e a vontade de fazer algo mais estruturado.

Prato cheio para aumentar o risco de lesões.

Pior ainda, veio uma gripe fortíssima, daquelas que acometeu quase todas as pessoas que eu conheço aqui em Curitiba entre junho e julho de 2022, logo após minha participação na Meia Maratona Internacional de Curitiba.

E agora, uma vez superado o período gripal, ao voltar a correr, uma dor incômoda no pé direito, que me leva a crer se tratar de uma fasceíte plantar provocada também pela falta de fortalecimento específico.

Iniciei na prática do Pilates em maio deste ano, o que me garantiu um visível aumento de força e flexibilidade mas que ainda parece estar longe do ideal para fornecer aquilo que preciso encarar em minhas propostas esportivas.

Pois é, amigos. A idade chega para todos. Tudo aquilo que eu fazia na casa dos meus 30 ou 35 anos hoje, com 45 anos, é impossível sem disciplina, dedicação e foco que não tenho agora.

Naqueles tempos, bastava calçar os tênis para sair correr 30 quilômetros ou meter o capacete na cabeça e fazer 100 km de bike. 

Todo este abuso do passado, as quase 40 subidas ao Pico Paraná, as 13 maratonas (sendo 8 em trilha), a La Mision Serra Fina, minha única prova de trail running de 80 km e que realizei com pouquíssimo treino específico... tudo isso teve um preço e a fatura chegou.

Escrevo para desabafar que não está sendo um momento fácil essa fase de compreender que envelhecemos e mudamos.

Que se quero novamente desafios esportivos será necessário um cuidado maior com alimentação, treinamento e descanso, os pilares do sucesso.

O primeiro passo foi dado, que é o reconhecimento de que é preciso mudar. Algumas dessas mudanças estão sendo colocadas em prática, como voltar a comer melhor, focar mais ainda no Pilates semanal, me dedicar aos treinos em cima da bicicleta antes de voltar a correr.

Significa também dar um tempo nessa fissura de gravar vídeos no YouTube visando algum retorno profissional futuro e focar naquilo que me paga as contas, viagens e alguns prazeres que é a Jamur Bikes.

Significa também tentar voltar a escrever, porque os momentos que passo junto ao teclado colocando as ideias em forma de palavras escritas me proporcionam um prazer único.

E significa, principalmente, entender que a vida é muito mais que calçar tênis e ir correr, seguir uma planilha, comprar peças de bicicleta para uma ilusória melhoria de performance em atletas amadores e se inscrever em competições.

Não deveria ser minha prioridade. É somente o complemento para uma vida mais plena. 

Então, primeiro resolver essa "base", a fundação do ser humano George Volpão.

E aí então, voltar. Com paciência. E dignidade.

Inclusive voltar a contar histórias por aqui.

Um grande abraço a todos e todas.