julho 21, 2023

Ultramaratona dos Perdidos 2023 - 25K (parte final)

 

(continuação do post anterior)


Sim, os mancos. Chegaram mancando meus amigos de mais de dez anos que também estavam na prova: Raphael Bonatto e Leo Meira, o Bagre. Ambos haviam torcido o tornozelo durante a prova, coincidentemente, e decidiram ali por abandonar a competição, uma vez que daquele ponto era possível o resgate por carro.


Igualmente manco, mas por causa do joelho e em melhores condições, não largaria o osso assim não. Ali encontrei Pati Fontana que havia subido justamente para esse momento de compartilhar comigo a descida pelo estradão íngreme.


O joelho não incomodava mais, apenas transmitia uma certa insegurança para acelerar o tanto que eu gostaria. Mas só de estar ali na companhia da Pati já me deixava mais relaxado. Nesse momento,cruzar a linha de chegada era apenas questão de tempo.


Bastaria terminar o trecho mais inclinado do estradão, entrar na trilha final que leva à famosa Cachoeira do Perdidos e encarar uma enlameada trilha final que atravessava alguns riachos. A meta era chegar, inteiro, com saúde e com um cansaço aceitável, condizente com meu treinamento e com minha entrega na prova. Apto a desfrutar o pós prova e voltar bem para casa.


Assim foi. Pouco mais de 4h33 minutos de prova, posição 83 entre 165 que concluíram e 195 que largaram, bem melhor do que eu poderia imaginar. Eu calculava que levaria umas 5 horas…


Deixando um pouco a emoção e falando um pouco mais do aspecto técnico, deixo abaixo o que usei na prova. Lembro que comprando através dos links que coloco aqui no site, recebo uma pequena comissão. Seria muito importante contar com essa colaboração dos amigos leitores.


Tênis Hoka Speedgoat 2 (com uns 300km de uso).

Meias Nike Trail.

Shorts Evadict com bolsos.

Camisa Solo Ion Lite personalizada cascalho.cc / Procorrer.

Manguito Pearl Izumi Inverno.

Boné Nike Trail.

Óculos HB Edge.

Mochila Aonijie Ounergy 10L contendo 2 flasks de 500 ml para líquidos, 3 flasks de 170ml para semi sólidos, manta de emergência e jaqueta impermeável Salomon Bonatti (não precisei usar na prova).


Alimentação e hidratação:


Levei comigo 2 flasks de 170ml com DUX Energy Kick Melancia contendo 90g de carboidrato cada um e 1 flask também de 170ml com Z2 Power Powder Lime Zest contendo também 90g de carboidrato. Um flask de DUX voltou intacto.


Levei comigo também 10 tâmaras jumbos recheadas com pasta de amendoim e uma pitada de sal em cada. Consumi 8, retornei com 2.


Também levei 9 tabletes de mariola (goiabada com banana). Consumi todos.


A estratégia era consumir carboidratos a cada 20 minutos após a primeira hora de atividade, ou seja, 30g de carbo de fontes alternadas a cada 20 minutos. Nas horas “redondas”, Os suplementos Z2 ou DUX, nas horas “final 20” duas mariolas e nas horas “final 40” as tâmaras. Funcionou super bem.



Haviam 2 pontos de apoio na prova, nos quilômetros 6 e 18. No primeiro, com uma hora de prova, consumi um pouco de coca cola e duas paçoquitas. No segundo, antes da descida final, tomei quase meio litro de isotônico.


Em momento algum senti falta de energia ou desconforto gástrico. Mudaria algo? Talvez, mas aí é assunto para outro post.


A reposição hídrica ficou por conta de tentar manter pelo menos 500ml de água por hora. Bebi bastante água nos riachos que cruzamos,além daquela que eu carregava comigo e que repus nos pontos de apoio.


A estratégia de 90g de carboidrato por hora certamente me fez terminar a prova em ótimas condições e acelerar a recuperação nos dias subsequentes. Primeira vez que me sinto bem para correr já no dia seguinte a um esforço dessa magnitude.


Finalizo aqui meu relato, dividido em 4 partes para não sobrecarregar o estimado leitor, agradecendo a todos que tornaram possível eu estar presente neste evento.


Pati Fontana (esposa e parceira de vida), Danilo Pinheiro (sócio-organizador) e a todos os companheiros de treinos, especialmente nestes últimos, como a Vera Guimarães, o Caio Kozano, a Rose Kopczynski e à Mara Silva.


Muito obrigado e até 2024 nos 50K.









julho 20, 2023

Ultramaratona dos Perdidos 2023 - 25K (parte 3)

(continuação do post anterior)

Atingir o cume nunca é o final da jornada.

Como dizia o incrível montanhista de altitude  Ed Viesturs ainda nos anos 90, subir é opcional, descer é mandatório.. Vamos descer então.

E descer por trilha muito escorregadias, de um barro preto, traiçoeiro e já bastante pisoteado por dezenas de atletas que já haviam passado por ali antes de mim e que lidavam exatamente com as mesmas dificuldades. É onde o esporte nos iguala: o percurso e a distância são os mesmos.

A meu favor, alguma experiência nesse tipo de terreno, fruto das dezenas de vezes que já havia percorrido essas trilhas desde a primeira vez lá em 2003, quando conheci o Morro Araçatuba.

Já em desfavor… vários anos longe de competições de longas distâncias e um Ligamento Cruzado Anterior do joelho direito rompido em 2013 e que não foi reconstruído cirurgicamente por escolha pessoal após muita análise e conversa com dezenas de fisioterapeutas e médicos. Essa condição me leva a encarar as descidas técnicas com uma cautela muito maior do que eu gostaria. E nem sempre é garantia de passar ileso, sem intercorrências como um entosre de joelho, algo que é muito fácil de acontecer com alguém que não tenha esse importante ligamento que estabiliza a passada.

Dito e feito. Descendo controlado por vários minutos, tudo dentro da normalidade das condições, com alguns tombos e quedas que são absolutamente normais em condições tão adversas, em algum momento escorrego com pé esquerdo.

Ao me apoiar, no susto, com o pé direito o estalo no joelho é nitidamente audível por dois atletas que estavam comigo naquele trecho, onde eu, ingenuamente, achava tranquilo.

Vem a queda e uma dor lancinante, mas já velha conhecida. Eis a vantagem da experiência. Leitura mental em frações de segundos, deixando a dor vir e saboreando, fazendo imediatos cálculos mentais sobre quanto ainda faltava, se precisaria de resgate, de medicação, se a vida esportiva havia acabado entre outras negatividades.

Quem ali estava comigo ofereceu assistência imediata, bandagens, sprays analgésicos e principalmente suporte emocional. Com muita gratidão no coração, tranquilizei-os que eu já estava acostumado, que a dor se esvaía a cada segundo e que dentro de instantes eu conseguiria levantar e me locomover por meus próprios meios.

Assim foi, coisa de nem 5 minutos de respiração profunda e de organização das ideias, estava eu de volta à trilha e até mesmo ensaiando um trotinho nas descidas. Como que por um milagre, parece, o terreno se tornava menos hostil e muito, muito mais acolhedor.

Paisagens incríveis em um cenário deslumbrante, emoldurado por colinas cobertas ora por campos, ora por macega e com vales com capões de mata de altitude absolutamente intocados, repletos de flores silvestres.

Logo chegamos ao vale que separa o Morro do Araçatuba do Morro dos Perdidos e após uma sucessão de pequenos córregos de águas puríssimas e alguns banhados, hora de encarar a última subida da prova, felizmente muito menos íngreme que as anteriores. Mais curta também.

Assim chego ao cume do Perdidos, inclusive alcançando vários atletas que haviam passado por mim naqueles minutos de agonia anterior.

E lá estavam os mancos. Mas isso é história para o próximo post, onde farei a narração dos últimos seis quilômetros da Ultra dos Perdidos 25K 2023.






julho 19, 2023

Ultramaratona dos Perdidos 2023 - 25K (parte 2)


(continuação do post anterior)

Estômago devidamente bem tratado no PC do km 6,8, nós atletas nos enveredamos em uma bucólica subida em estradas particulares entre os polêmicos reflorestamentos de Pinus. Subida não muito forte a ponto de nos esfalfar de bandeira mas também não tão leve a ponto de conseguir emendar um trote, pelo menos para o nosso nível intermediário de condicionamento.

Isso até a próxima curva. Um verdadeira cotovelo à esquerda nos mostrou o desenho do próximo desafio: uma subida empinada, dura, cascalhada, atravessada por erosões dos mais diversos calibres e emoldurada por um horizonte cada vez mais amplo às nossas espaldas: subíamos, enfim, a encosta do Morro Araçatuba.

Estando eu pela primeira vez encarando esse gigante nessa face norte, frequentada apenas por uns poucos aventureiros, me encantava a cada segundo com as paisagens descortinadas a cada metro vertical avançado. Quando, em determinado momento fomos despejados nos campos de altitude (na realidade um pasto, mas campo de altitude soa mais bonito) e a trilha tornou-se menos íngreme e corrível, não foi possível conter a emoção.

Que delícia é correr com horizontes vastos, caminhos novos e saúde intacta para desfrutar o puro trail running.

Sobe um pouquinho, desce um pouquinho, refaz tudo isso até o cotovelo mas legal da prova: um encontro com staffs e o Carlos Eduardo da Carbono Assessoria, para então, nessa quebra de direção, avançar rumo ao cume do Araçatuba pela já conhecida trilha principal de acesso.

E essa trilha significa fortes ventos e forte inclinação, que chega acima dos 40% em vários trechos. Mas aí, então, estava em território conhecido novamente, com pouco mais de 11 quilômetros de prova e umas duas horas de atividade.

De fato, o vento era bem intenso naqueles lajeados antes da dura rampa final. Mas a sensação de vitória por estar novamente presente em um evento de puro montanhismo de velocidade, e justamente em um dos locais que mais estima e admiração tenho, fazia esse fenômeno passar quase despercebido.

Começamos a galgar essa dita encosta final em uma procissão de atletas revezando-nos nos gritos eufóricos de “bora” e “pra cima” até que finalmente chegamos ao platô final que nos conduz ao cume propriamente dito.

Mais um trecho onde era possível alargar a passada e desenvolver um trote leve com aquilo que havia sobrado das pernas.

Estava então com quase 13 quilômetros de prova, umas duas horas e pouco, praticamente 1.000 metros de ganho vertical e um sentimento de “falta pouco” tomando conta.

Se eu soubesse que o momento mais drástico da prova estaria a poucos instantes dessa celebração…

Mas esse episódio eu conto no próximo post.








julho 18, 2023

Ultramaratona dos Perdidos 2023 - 25K (parte 1)


Uma competição de trail running começa muito antes da largada.

Passa pelos treinamentos, alimentação, sono, escolha correta dos equipamentos entre vários outros fatores.

A minha Ultra dos Perdidos começou no início do ano quando fui ”convencido” a alinhar na largada agendada para o 15 de julho deste ano.

Aceito o desafio, bons treinos se sucederam no início de 2023, mudanças grandes na metodologia aplicada a partir de maio, todos os problemas enfrentados no ano anterior foram sanados (lombar, glúteo, pé) e finalmente uma redução de 5kg no peso se comparado à abril deste ano.

Finalmente o 15 de julho chega. Eu e a Pati Fontana acampamos no local da prova, pois é dessa maneira que gostamos de viver o esporte, o mais conectado possível, em todos os aspectos. Jamais será apenas colocar o número de peito, correr e buscar uma medalha. Gostamos de vivenciar a experiência completa, conversar com os staffs, a organização, os demais atletas e tudo o mais.

Após acompanhar a largada do pessoal dos 50K às 6 da manhã, hora da alimentação pré prova: café preto com (muito) açúcar, bananas e pão integral na chapa com óleo de coco (que contém os famosos TCMs, Triglicérides de Cadeia Média, importantes em atividades de endurance).

Não poderia ter escolhido melhor combinação. Larguei às 9:10 da manhã cheio de energia, a qual já foi bem consumida antes do primeiro quilômetro, com uma subida do tipo cala-a-boca em um trecho sobre os dutos enterrados da Petrobrás. Subida curta mas infame na inclinação.

Lá no alto, olhando para frente e para trás, pouco menos de 200 companheiros de atividade que largaram comigo. Na descida seguinte, encontramos uma estrada de chão e lá estava Pati Fontana com sua Gravel Bike Sense Versa, que veio no carro para ser usada nesse trecho para acompanhar um pouco da prova.

Formalizado o beijo do guerreiro e sua princesa. Estradão com subidas ora tranquilas para correr em ritmo confortáveis, ora somente caminhando forte mesmo.

Um inusitado trecho em um samambaial íngreme nos colocou dentro de uma propriedade rural que era designada como o primeiro Ponto de Apoio (PA), com pouco mais de 6 km de prova.

Água, coca-cola e paçoquita pra dentro, já estávamos prontos para uma longa subida até o platô intermediário do Araçatuba, ponto mais alto da prova e palco do relato que virá no próximo post.