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Carta ao Volp

Esquece as modinhas, Volp. Não te deixa levar pela empolgação da vida digital. Tu sabes que o trail running não é mais o mesmo de quando iniciaste nisso 15 anos atrás. Neste final de semana que passou pudeste comprovar.

Correr em trilhas e por muitas horas nunca deixará de ser um dos teus grandes prazeres. Mas não te ilude achando que a inocência de outrora ainda possa ser encontrada nestes dias midiáticos.

Temos show business como regra e teu lance é outro. É corre libre. Tua essência é a liberdade e a camaradagem. Esquece os mortos, eles não levantam mais.

Sei bem que nunca será algo pessoal. Nunca será referente à fulano ou sicrano. Quem te conhece sabe que é mais sobre como o "sistema" se desenvolve, como as coisas se desenrolam. Nessa politicagem nojenta que vem lá de cima, nessa ânsia desmedida por parecer o que não se é, nessa letargia que afeta a sociedade atual que consome e se consome como se não houvesse amanhã.

Até porque, como diz a canção, "se você parar pra pensar, na verdade não há".

Mas será que não há mesmo, Volp?

Eu sei que tu sabes que na verdade, mas na verdade mesmo, há. Tu só não podes querer prever que seja sombrio ou ensolarado. Isso realmente não nos pertence, prever o futuro. 

Mas saindo dessa conversa filosófica sobre existência ou não de futuro, o que há de fato é o presente correto Volp? Nele estamos todos inseridos e guiados pelo senso comum, pelas convenções sociais que muito importantes são, concorda?

Esta é semana de UTMB, Volp, a Ultra Trail du Mont Blanc e suas incontáveis opções de provas e distâncias. Aquela prova que tu "descobriste" em 2008 e que foi vencida por um novinho magrelo da Catalunha e que viria a se tornar a maior referência da modalidade em todos os tempos, Kilian Jornet. Ali te encantaste com aquela vibe de desafio nas montanhas, algo que sempre apreciaste desde tua primeira visita ao Marumbi em 1995 com apenas 18 anos de idade.

Certamente é o mais midiático dos eventos no nosso querido Ultratrail. É uma exposição frenética tanto por parte dos organizadores, como por parte das marcas lá presente e, obviamente dos atletas que lá estão por merecimento, já que conseguir uma vaga para qualquer uma das provas exige mais que disposição e sorte.

Eu sei que tu, Volp, no fundo acha isso bastante positivo. Quem mal te conhece é que acaba julgando-te como viúva dos velhos tempos. Mas quem te conhece intimamente sabe o quanto te alegras em ver que esse crescimento todo tem um saldo positivo. 

É claro que todo crescimento gera dor também, mas são "dores do bem". É impossível progredir sem, infelizmente, deixar algumas coisas e algumas pessoas para trás. É o fluxo inexorável da vida. Não se pode ganhar sempre, Volp. Porque era isso que tu querias lá atrás, quando começaste 15 anos atrás. Tu querias mais provas, mais, atletas, mais opções de equipamentos. Aí está. 

Ok que junto com isso vieram o consumo desenfreado, as deslealdades, o doping, o impacto ambiental e as futilidades. Mas isso, tu sabes Volp, não é exclusividade do nosso Trail Running. É do ser humano e quanto a isso, nada podemos fazer. Nem Jesus pode.

Sei que desfrutarás esta semana mágica, o "sommet du trail mondiale". Estávamos ansiosos por acompanhar nossos amigos e nossos herois. É chegada a hora, Volp.

Então faz tua parte, manifesta tuas intenções e pensamentos, fala aos que dispostos estejam a isso e segue.

Afinal, quem faz o caminho é o caminhante ao caminhar.

Boa semana, Volp.



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