novembro 05, 2023

Indomit Bombinhas 42K 2023 - Relato de Prova

 Essa é a história da minha participação na Indomit Bombinhas 2023, distância de 42 quilômetros.


Em 2013 eu estava no meu melhor ano esportivo. Não apenas nos resultados do tipo pódio de categoria no trail running, algo que nunca, jamais eu persegui. Sempre corri pelo desfrute e pelo desafio pessoal. Nunca foi contra alguém.


Porém eu começava a colher o resultado da dedicação.Tanto nos treinos como em um certo reconhecimento, por estar desenvolvendo um trabalho consistente na promoção da modalidade. Eu escrevia bastante, inclusive para revistas que nem eram especializadas em trail. Começava a receber convites para correr provas. Com tudo pago, acreditem. Passagens aéreas, hotel chique, refeições, etc.


Porém em novembro daquele ano em um treino bobo eu rompi meu ligamento cruzado anterior do joelho direito, episódio que já contei inúmeras vezes por aqui.


E com isso, aliado a um profundo desânimo em voltar a correr, tratamento caro e demorado, 2013 se tornou o ano em que corri minhas últimas maratonas em trilha, a K42 Bombinhas em agosto e a Ecocoross em Brasília em setembro.

Perdi a conta de quantos ensaios e recomeços desde então. Após um exílio dolorido mas importante entre os anos de 2015 e 2019, aos poucos fui novamente me interessando por me desafiar em alguma competição.

Nesse meio tempo estava bastante dedicado aos pedais e correndo eventualmente, sem pressão, só para curtir. Até fiz uma ou outra provinha na rua. Mas em 2019 fui convidado pelo Juan para correr pelo menos os 12K da Indomit Bombinhas. Aceitei, fui e me diverti demais. Ali a chama acendeu com maior intensidade e decidi me dedicar mais intensamente.


Mesmo assim, acabei levando estes quatro anos para retornar ao evento (ok, teve uma pandemia no meio).


E no começo do ano já estava decidido a encarar os 42Km. Eu PRECISAVA disso. Uma motivação para retomar a uma maratona. e TINHA que ser esta, que foi a minha primeira, lá em 2009, e que foi também a primeira maratona em trilha do Brasil.


Aos trancos e barrancos consegui me preparar minimamente para ela. A saída de um trabalho de mais de uma década junto à Jamur Bikes, uma tentativa ilusória e relativamente fracassada de decolar o canal do Youtube, uma viagem louca e maravilhosa à Paraty para participar do lado de fora da Paraty by UTMB e um novo e encantador desafio profissional junto à Bike4U bagunçaram um pouco minha vida esportiva em 2023. Ainda bem que eu havia construído uma base relativamente sólida no primeiro semestre, treinando principalmente por conta, após a saída da Equipiazza em maio. De junho a setembro eu consegui finalmente me livrar das dores generalizadas e ser consistente nos treinos de corrida. Finalmente me senti com um norte na corrida.



Na semana da prova, a ansiedade era grande. Iria viajar já na quarta feira anterior ao evento. Já tinha me comprometido com isso e as folgas no trabalho já estavam acertadas. Queria viver o clima da cidade antes do evento, poder correr em algumas trilhas nos dias anteriores e desfrutar um pouco de silêncio e paz além da oportunidade de fortalecer relações.


Nem mesmo os dias cinzentos por lá tiraram o entusiasmo que estava tomando conta de mim.


Corrida ali nas trilhas da Praia de Quatro Ilhas, refeições e rolês aleatórios, barulho do mar… Ah, a vida é melhor junto ao mar, certamente.






Na sexta-feira anterior à prova, na retirada de kit, o encontro com velhos e novos amigos. Ah, essa vibração que eu gosto… A Indomit Bombinhas, mesmo com praticamente 700 atletas neste ano, mantinha seu clima familiar. Ser convidado para um evento como esse é absolutamente irrecusável e era questão de honra estar lá presente, conversar, motivar, PARTICIPAR EM COMUNIDADE. Queria ali fazer por merecer tanta atenção e carinho a mim dedicados. Valorizo cada convite que recebo. Deve ser por isso que sempre recebo o mesmo tanto de volta daqueles a quem me dedico. 


Na manhã da prova, dia nublado como de praxe mas com previsão de abrir um pouco o sol durante o dia. O percurso das mais recentes edições era um pouco diferente do que eu havia percorrido na década passada, englobando mais trilhas e mais desníveis. A prova tornara-se mais dura, fato que os mapas e a altimetria me alertaram.


Largamos pontualmente às 7 da manhã pela Praia de Bombinhas. Percurso já bastante conhecido por mim, desvio à esquerda, sobe pela rua de acesso à Praia de Bombas, neste novo percurso, percorremos o trecho todo desta praia até desviar à esquerda por uma rua transversal ao mar e começar a subir. Poucas centenas de metros à frente uma congestionada entrada na trilha, devido ao piso escorregadio e necessidade do uso de corda auxiliar para o barranco. Após um mimimi generalizado de atletas que não leram a parte do regulamento onde se recomenda que atletas mais lentos deem passagem aos mais rápidos, dei de ombros e segui fazendo a minha prova, passando por aqueles que correm rápido no plano mas não sabem ultrapassar um simples obstáculo sem reclamar.





Haviam pouco mais de 4 quilômetros de terreno praticamente plano e ao nível do mar e  agora era hora de uma subida na mata até aproximadamente a cota 230 na chamada Trilha do Valtinho, coisa de 3 km. Duro, senhoras e senhores. Bem duro. Trechos de até 45 graus de inclinação, uso de cordas auxiliares, trilhas escorregadias… puro trail running. A inserção deste trecho na prova proporcionou a receita completa de um percurso técnico e desafiador e ao mesmo tempo com trechos facilmente corríveis. No fim das contas, por mais que tenha se tornado mais dura, ficou mais “trail” mesmo.


Após um íngreme descida que nos despachava para um gostoso pasto morro abaixo até o primeiro ponto de apoio, por volta do quilômetro 9, o que viria pela frente era conhecido.


Ali neste primeiro P.A. me reabasteci com 500ml de água e alguma comida sólida. Estava com a estratégia que havia funcionado nos 25K da Ultra dos Perdidos três meses antes: aproximadamente 80 a 90g de carboidrato por hora, alternando entre líquido, gel e sólidos como paçoca e goiabinhas. Estava funcionando a alimentação. Porém na hidratação acho que falhei um pouco até então, consumindo menos líquidos que o necessário. Infelizmente só me dei conta no meio da trilha seguinte. Aquela que depois de subir a agora asfaltada estrada que leva ao Morro da Antena, quebra à esquerda quase sempre subindo até o ponto mais alto antes de descer para a trilha da Costeira de Zimbros. Pouco mais de 7 quilômetros de trilha no total até finalmente voltarmos ao nível do mar e após um trecho de areia fofa, atingir o ponto de apoio seguinte, onde eu cheguei com zero água.





Sem pressa, me abasteci com vontade tanto com água como com carboidrato líquido. Aí acho que vacilei um pouco, pois depois desse P.A. passei a lidar com certo desconforto gástrico. Felizmente não perdurou por muito tempo e logo após finalizar o trecho de uns 5 quilômetros pelas praias de Zimbros, Morrinhos e Canto Grande, logo após o terceiro ponto de apoio, volto a me sentir melhor, voltando a hidratar apenas com água e consumir o que estava habituado, conforme estratégia anterior.


A trilha seguinte, que nos leva até a Praia da Tainha, parece fácil analisando mapas e altimetrias. Mas é um pouco travada com pequenos topes de um ou dois metros que vão minando as já parcas forças das pernas. Por ali, caminhei mais do que eu esperava. O esforço no trecho inicial lá da Trilha do Valtinho começava a cobrar o seu preço.


De toda forma cheguei bem ao início da inclemente subida rumo ao P.A. 4, desta vez sem passar na Praia da Tainha, desviando-se dela um pouco antes. Não achei ruim, evitava descer uns 50 metros para ter que subi-los novamente, como era no percurso das edições anteriores.


Mas a subida pelo estradão era a mesma… dolorida, íngreme, parecia sem fim. E agora com sol. Sim, senhoras e senhores, o sol resolveu sair e sair com vontade. Felizmente para mim, que adoro correr nestas condições mais adversas e utilizando da minha experiência para fazer o que deve ser feito: hidratar-se corretamente e repor carboidratos.


Ali estávamos por volta do Km 28 e pela primeira vez tive a certeza que finalizaria a prova dentro do tempo limite que era de 8 horas. Um tempo bastante exíguo dada a dificuldade da prova, bem diferente de uma La Mision que, apesar de maior altimetria, você tem praticamente uma vida toda para completar os 50 e os 80 km, permitindo que se faça a prova praticamente caminhando o tempo todo. Na Indomit Bombinhas era diferente. é necessário correr. E não poderia ser muito devagar.


Desci a pirambeira pela estrada de terra e paralelepípedos em um bom passo, coisa de 6min/km, o que para mim naquele momento era bastante rápido dado o estrago que já carregava nas pernas. Até poderia descer mais rápido, mas sabia que precisaria de musculatura mais à frente.


Enfim, o trecho que considero mais difícil mentalmente falando, a Praia de Mariscal. São uns 5 quilômetros de areia bem batida mas que parecem intermináveis. Havia o sol, havia os banhistas e havia uns pontos de referência para colocar como meta e distrair um pouco das dores comuns a quem está passando da marca dos 33 quilômetros em uma maratona.


No fim, deu boa e praticamente “ignorei” a subida seguinte, no quente asfalto da estrada de acesso à essa Praia e que nos levaria ao sexto ponto de apoio (o quinto ficava no meio da Praia de Mariscal e era basicamente água e paçoca). Ali, finalmente na Praia de 4 Ilhas, a tradicional melancia e uma cadeira para descansar uns minutos.


Toca para a praia para, então, fazer o trecho mais cênico da prova, a mesma trilha que havia corrido na quinta-feira anterior e que proporciona maravilhosas fotos. Aliás, falando delas, o que vocês veem por aqui é parte de um pack de fotos que adquiri antecipadamente na FotoP.





Realizado o trecho de trilha, voltamos à 4 Ilhas, encontro o apoio incondicional e vital da Vera Lúcia, companheira de tantos treinos, lamentos, desabafos e bons momentos na fase de preparação para a Indomit e que estava lá depois de ter finalizado a prova dos 12 Km. Foi muito massa encontrá-la por lá. Deu um ânimo novo e segui para aquele que é a pá de cal em quem não estava assim tão preparado: subir um concretão até entrar na trilha que leva ao Costão de Bombinhas, trecho a beira-mar bastante técnico e também muito cênico.


Mas mais complicado é sair dali. Sobe e sobe forte para depois despencar rumo à Praia do Retiro dos Padres, onde eu estava acampado. Neste trecho passei por bastante gente que realmente começava a sentir o peso da distância e do sol que havia saído anteriormente. 

Agora ele já não nos castigava como antes, mas ainda estava bem abafado.


Último ponto de apoio, última água e última subida. Uma passada ao lado da barraca (abraço, Martin, companheiro do camping) e então a tradicional passagem pela maravilhosa Praia da Sepultura, absolutamente lotada de turistas. O que não é difícil de acontecer pois ela é minúscula, menos de 50 metros de extensão.


Quilômetro final da prova, Um misto de alívio e realização. Lidei com incertezas nas semanas anteriores, cogitando até mesmo desistir da prova, fazer os 12 Km talvez…


Mas, como mencionei antes, valorizo os convites feitos e vou até o fim. Deu certo. Longe de uma performance que eu esperava no início do ano quando me inscrevi, mas muito satisfeito por ter conseguido fazer uma prova equilibrada. Sem pontos baixos, sem bad. Quilômetro por quilômetro, trecho por trecho, praia por praia. Consistente, sem pressa.  Consciente daquilo que eu podia entregar. Apenas terminar a prova. VOLTAR. RENASCER.


Ali nasci como corredor de longas distâncias em trilha e, 2009 e agora em 2023 eu renasço.


Para agradecer todos os responsáveis eu precisaria de um post inteiro dedicado a isso. Fiz algo assim no meu Instagram, onde mencionei exclusivamente os profissionais envolvidos nesse processo e que, embora solene e tristemente ignorado por alguns, me trouxe muito conforto o reconhecimento daqueles que entenderam o sabor dessa vitória pessoal e que compartilho essa conquista. Escolho ficar com os bons.


Mais à frente, um post mais técnico, falando dos equipamentos utilizados, da estratégia de alimentação e hidratação também em detalhes bem como foi o treinamento. E, claro, os próximos passos.


Muito obrigado por ter chegado até aqui. Não cruzei esta linha de chegada sozinho. Levarei todos vocês para as próximas. Pois como diz o lema da Indomit, que utiliza de uma frase atribuída ao pacifista Mahatma Gandhi, a força não provém da capacidade física. Provém de uma vontade indomável. 



setembro 07, 2023

Procurando Independência

Feriado de Independência. Dia que sempre teve muito significado pra mim no que se refere à experiências de montanha. Minha primeira vez no Marumbi foi em um 07/09 em 2000. No Pico Paraná também foi em um 07/09. Em 2001.

Em 2021 eu estava pedalando no Vale Europeu sob chuva fria. Em 2017 eu fui pro Morro Itapiroca de bike até o início da sua trilha, fiz uma boa subida e descida correndo e voltei de bike pra casa. São incontáveis histórias.

Diferentemente em 2023, um dia simples, cinzento, com uma corridinha mequetrefe, me equilibrando entre ganhar endurance ou destruir o que resta de um sistema músculo-esquelético cansado.

Nada como um day after day como diz a canção e, de preferência, alone on the hill.

Bom feriadão a todos.






julho 21, 2023

Ultramaratona dos Perdidos 2023 - 25K (parte final)

 

(continuação do post anterior)


Sim, os mancos. Chegaram mancando meus amigos de mais de dez anos que também estavam na prova: Raphael Bonatto e Leo Meira, o Bagre. Ambos haviam torcido o tornozelo durante a prova, coincidentemente, e decidiram ali por abandonar a competição, uma vez que daquele ponto era possível o resgate por carro.


Igualmente manco, mas por causa do joelho e em melhores condições, não largaria o osso assim não. Ali encontrei Pati Fontana que havia subido justamente para esse momento de compartilhar comigo a descida pelo estradão íngreme.


O joelho não incomodava mais, apenas transmitia uma certa insegurança para acelerar o tanto que eu gostaria. Mas só de estar ali na companhia da Pati já me deixava mais relaxado. Nesse momento,cruzar a linha de chegada era apenas questão de tempo.


Bastaria terminar o trecho mais inclinado do estradão, entrar na trilha final que leva à famosa Cachoeira do Perdidos e encarar uma enlameada trilha final que atravessava alguns riachos. A meta era chegar, inteiro, com saúde e com um cansaço aceitável, condizente com meu treinamento e com minha entrega na prova. Apto a desfrutar o pós prova e voltar bem para casa.


Assim foi. Pouco mais de 4h33 minutos de prova, posição 83 entre 165 que concluíram e 195 que largaram, bem melhor do que eu poderia imaginar. Eu calculava que levaria umas 5 horas…


Deixando um pouco a emoção e falando um pouco mais do aspecto técnico, deixo abaixo o que usei na prova. Lembro que comprando através dos links que coloco aqui no site, recebo uma pequena comissão. Seria muito importante contar com essa colaboração dos amigos leitores.


Tênis Hoka Speedgoat 2 (com uns 300km de uso).

Meias Nike Trail.

Shorts Evadict com bolsos.

Camisa Solo Ion Lite personalizada cascalho.cc / Procorrer.

Manguito Pearl Izumi Inverno.

Boné Nike Trail.

Óculos HB Edge.

Mochila Aonijie Ounergy 10L contendo 2 flasks de 500 ml para líquidos, 3 flasks de 170ml para semi sólidos, manta de emergência e jaqueta impermeável Salomon Bonatti (não precisei usar na prova).


Alimentação e hidratação:


Levei comigo 2 flasks de 170ml com DUX Energy Kick Melancia contendo 90g de carboidrato cada um e 1 flask também de 170ml com Z2 Power Powder Lime Zest contendo também 90g de carboidrato. Um flask de DUX voltou intacto.


Levei comigo também 10 tâmaras jumbos recheadas com pasta de amendoim e uma pitada de sal em cada. Consumi 8, retornei com 2.


Também levei 9 tabletes de mariola (goiabada com banana). Consumi todos.


A estratégia era consumir carboidratos a cada 20 minutos após a primeira hora de atividade, ou seja, 30g de carbo de fontes alternadas a cada 20 minutos. Nas horas “redondas”, Os suplementos Z2 ou DUX, nas horas “final 20” duas mariolas e nas horas “final 40” as tâmaras. Funcionou super bem.



Haviam 2 pontos de apoio na prova, nos quilômetros 6 e 18. No primeiro, com uma hora de prova, consumi um pouco de coca cola e duas paçoquitas. No segundo, antes da descida final, tomei quase meio litro de isotônico.


Em momento algum senti falta de energia ou desconforto gástrico. Mudaria algo? Talvez, mas aí é assunto para outro post.


A reposição hídrica ficou por conta de tentar manter pelo menos 500ml de água por hora. Bebi bastante água nos riachos que cruzamos,além daquela que eu carregava comigo e que repus nos pontos de apoio.


A estratégia de 90g de carboidrato por hora certamente me fez terminar a prova em ótimas condições e acelerar a recuperação nos dias subsequentes. Primeira vez que me sinto bem para correr já no dia seguinte a um esforço dessa magnitude.


Finalizo aqui meu relato, dividido em 4 partes para não sobrecarregar o estimado leitor, agradecendo a todos que tornaram possível eu estar presente neste evento.


Pati Fontana (esposa e parceira de vida), Danilo Pinheiro (sócio-organizador) e a todos os companheiros de treinos, especialmente nestes últimos, como a Vera Guimarães, o Caio Kozano, a Rose Kopczynski e à Mara Silva.


Muito obrigado e até 2024 nos 50K.









julho 20, 2023

Ultramaratona dos Perdidos 2023 - 25K (parte 3)

(continuação do post anterior)

Atingir o cume nunca é o final da jornada.

Como dizia o incrível montanhista de altitude  Ed Viesturs ainda nos anos 90, subir é opcional, descer é mandatório.. Vamos descer então.

E descer por trilha muito escorregadias, de um barro preto, traiçoeiro e já bastante pisoteado por dezenas de atletas que já haviam passado por ali antes de mim e que lidavam exatamente com as mesmas dificuldades. É onde o esporte nos iguala: o percurso e a distância são os mesmos.

A meu favor, alguma experiência nesse tipo de terreno, fruto das dezenas de vezes que já havia percorrido essas trilhas desde a primeira vez lá em 2003, quando conheci o Morro Araçatuba.

Já em desfavor… vários anos longe de competições de longas distâncias e um Ligamento Cruzado Anterior do joelho direito rompido em 2013 e que não foi reconstruído cirurgicamente por escolha pessoal após muita análise e conversa com dezenas de fisioterapeutas e médicos. Essa condição me leva a encarar as descidas técnicas com uma cautela muito maior do que eu gostaria. E nem sempre é garantia de passar ileso, sem intercorrências como um entosre de joelho, algo que é muito fácil de acontecer com alguém que não tenha esse importante ligamento que estabiliza a passada.

Dito e feito. Descendo controlado por vários minutos, tudo dentro da normalidade das condições, com alguns tombos e quedas que são absolutamente normais em condições tão adversas, em algum momento escorrego com pé esquerdo.

Ao me apoiar, no susto, com o pé direito o estalo no joelho é nitidamente audível por dois atletas que estavam comigo naquele trecho, onde eu, ingenuamente, achava tranquilo.

Vem a queda e uma dor lancinante, mas já velha conhecida. Eis a vantagem da experiência. Leitura mental em frações de segundos, deixando a dor vir e saboreando, fazendo imediatos cálculos mentais sobre quanto ainda faltava, se precisaria de resgate, de medicação, se a vida esportiva havia acabado entre outras negatividades.

Quem ali estava comigo ofereceu assistência imediata, bandagens, sprays analgésicos e principalmente suporte emocional. Com muita gratidão no coração, tranquilizei-os que eu já estava acostumado, que a dor se esvaía a cada segundo e que dentro de instantes eu conseguiria levantar e me locomover por meus próprios meios.

Assim foi, coisa de nem 5 minutos de respiração profunda e de organização das ideias, estava eu de volta à trilha e até mesmo ensaiando um trotinho nas descidas. Como que por um milagre, parece, o terreno se tornava menos hostil e muito, muito mais acolhedor.

Paisagens incríveis em um cenário deslumbrante, emoldurado por colinas cobertas ora por campos, ora por macega e com vales com capões de mata de altitude absolutamente intocados, repletos de flores silvestres.

Logo chegamos ao vale que separa o Morro do Araçatuba do Morro dos Perdidos e após uma sucessão de pequenos córregos de águas puríssimas e alguns banhados, hora de encarar a última subida da prova, felizmente muito menos íngreme que as anteriores. Mais curta também.

Assim chego ao cume do Perdidos, inclusive alcançando vários atletas que haviam passado por mim naqueles minutos de agonia anterior.

E lá estavam os mancos. Mas isso é história para o próximo post, onde farei a narração dos últimos seis quilômetros da Ultra dos Perdidos 25K 2023.






julho 19, 2023

Ultramaratona dos Perdidos 2023 - 25K (parte 2)


(continuação do post anterior)

Estômago devidamente bem tratado no PC do km 6,8, nós atletas nos enveredamos em uma bucólica subida em estradas particulares entre os polêmicos reflorestamentos de Pinus. Subida não muito forte a ponto de nos esfalfar de bandeira mas também não tão leve a ponto de conseguir emendar um trote, pelo menos para o nosso nível intermediário de condicionamento.

Isso até a próxima curva. Um verdadeira cotovelo à esquerda nos mostrou o desenho do próximo desafio: uma subida empinada, dura, cascalhada, atravessada por erosões dos mais diversos calibres e emoldurada por um horizonte cada vez mais amplo às nossas espaldas: subíamos, enfim, a encosta do Morro Araçatuba.

Estando eu pela primeira vez encarando esse gigante nessa face norte, frequentada apenas por uns poucos aventureiros, me encantava a cada segundo com as paisagens descortinadas a cada metro vertical avançado. Quando, em determinado momento fomos despejados nos campos de altitude (na realidade um pasto, mas campo de altitude soa mais bonito) e a trilha tornou-se menos íngreme e corrível, não foi possível conter a emoção.

Que delícia é correr com horizontes vastos, caminhos novos e saúde intacta para desfrutar o puro trail running.

Sobe um pouquinho, desce um pouquinho, refaz tudo isso até o cotovelo mas legal da prova: um encontro com staffs e o Carlos Eduardo da Carbono Assessoria, para então, nessa quebra de direção, avançar rumo ao cume do Araçatuba pela já conhecida trilha principal de acesso.

E essa trilha significa fortes ventos e forte inclinação, que chega acima dos 40% em vários trechos. Mas aí, então, estava em território conhecido novamente, com pouco mais de 11 quilômetros de prova e umas duas horas de atividade.

De fato, o vento era bem intenso naqueles lajeados antes da dura rampa final. Mas a sensação de vitória por estar novamente presente em um evento de puro montanhismo de velocidade, e justamente em um dos locais que mais estima e admiração tenho, fazia esse fenômeno passar quase despercebido.

Começamos a galgar essa dita encosta final em uma procissão de atletas revezando-nos nos gritos eufóricos de “bora” e “pra cima” até que finalmente chegamos ao platô final que nos conduz ao cume propriamente dito.

Mais um trecho onde era possível alargar a passada e desenvolver um trote leve com aquilo que havia sobrado das pernas.

Estava então com quase 13 quilômetros de prova, umas duas horas e pouco, praticamente 1.000 metros de ganho vertical e um sentimento de “falta pouco” tomando conta.

Se eu soubesse que o momento mais drástico da prova estaria a poucos instantes dessa celebração…

Mas esse episódio eu conto no próximo post.








julho 18, 2023

Ultramaratona dos Perdidos 2023 - 25K (parte 1)


Uma competição de trail running começa muito antes da largada.

Passa pelos treinamentos, alimentação, sono, escolha correta dos equipamentos entre vários outros fatores.

A minha Ultra dos Perdidos começou no início do ano quando fui ”convencido” a alinhar na largada agendada para o 15 de julho deste ano.

Aceito o desafio, bons treinos se sucederam no início de 2023, mudanças grandes na metodologia aplicada a partir de maio, todos os problemas enfrentados no ano anterior foram sanados (lombar, glúteo, pé) e finalmente uma redução de 5kg no peso se comparado à abril deste ano.

Finalmente o 15 de julho chega. Eu e a Pati Fontana acampamos no local da prova, pois é dessa maneira que gostamos de viver o esporte, o mais conectado possível, em todos os aspectos. Jamais será apenas colocar o número de peito, correr e buscar uma medalha. Gostamos de vivenciar a experiência completa, conversar com os staffs, a organização, os demais atletas e tudo o mais.

Após acompanhar a largada do pessoal dos 50K às 6 da manhã, hora da alimentação pré prova: café preto com (muito) açúcar, bananas e pão integral na chapa com óleo de coco (que contém os famosos TCMs, Triglicérides de Cadeia Média, importantes em atividades de endurance).

Não poderia ter escolhido melhor combinação. Larguei às 9:10 da manhã cheio de energia, a qual já foi bem consumida antes do primeiro quilômetro, com uma subida do tipo cala-a-boca em um trecho sobre os dutos enterrados da Petrobrás. Subida curta mas infame na inclinação.

Lá no alto, olhando para frente e para trás, pouco menos de 200 companheiros de atividade que largaram comigo. Na descida seguinte, encontramos uma estrada de chão e lá estava Pati Fontana com sua Gravel Bike Sense Versa, que veio no carro para ser usada nesse trecho para acompanhar um pouco da prova.

Formalizado o beijo do guerreiro e sua princesa. Estradão com subidas ora tranquilas para correr em ritmo confortáveis, ora somente caminhando forte mesmo.

Um inusitado trecho em um samambaial íngreme nos colocou dentro de uma propriedade rural que era designada como o primeiro Ponto de Apoio (PA), com pouco mais de 6 km de prova.

Água, coca-cola e paçoquita pra dentro, já estávamos prontos para uma longa subida até o platô intermediário do Araçatuba, ponto mais alto da prova e palco do relato que virá no próximo post.










junho 02, 2023

De volta ao esquema bike+corrida+bike

 Neste domingo 28 de maio, me juntei novamente ao pessoal da Equipiazza para um treino de corrida, dessa vez em estradas rurais. 

A Colônia D. Pedro II é bastante conhecida pela galera do MTB e também do Gravel. Mas desta vez a proposta principal era correr aproximadamente 18 km pelas estradas de terra que existem por lá.

Mas como a gente gosta mesmo é do estrago, resolvi ir e voltar de bike. 

De casa até o Vloce Foods são quase 22 km pelo caminho mais direto. Isso somente de ida. Um prato cheio para um domingo de esportes de endurance e isso mostramos para vocês neste vídeo abaixo

Se você ainda não está inscrito em nosso canal no YouTube, a hora é agora, clique aqui para acompanhar o que a gente anda fazendo nas montanhas, nas estradas, pelo mundo.





maio 25, 2023

Ao Anhangava, talvez perto das 100 ascenções


Hola, que tal?

Bom demais voltar na linda tarde de domingo ao Morro do Anhangava, quando encerrei uma boa semana de atividades:

✅️ 2 sessões de Pilates.

✅️ Corrida com 7 sessões e 60,1 Km / 1.084m D+.

Na descida, uma queda bem boba, caminhando em um trecho tranquilo, mas que rendeu uma leve torção no tornozelo esquerdo e uma pancada na cabeça (sem maior gravidade além de um galo no cocoruto).

De repente uma oportunidade para uma pausa de uns dias nas corridas para seguir firme nas sessões de fortalecimento, pedalar para não perder tanto o condicionamento aeróbico e em seguida buscar mais especificidade para o que me interessa: explorar e desfrutar os arredores de Curitiba correndo e pedalando o máximo possível. 

Participar de competições ou ganhar performance é o que menos me importa agora. São apenas instrumentos de motivação para vivenciar a comunidade trail runner e promover esta tão fascinante modalidade. Animadíssimo pelas duas provas que estou inscrito este ano.

Mas a satisfação mesmo tem vindo da reconstrução de um corpo saudável, o fortalecimento de relações humanas verdadeiras e a paz de espírito que poder passar horas na natureza proporciona.

Em Silêncio. Aos Poucos. Sem Barulho. 

Tenho dito isso há alguns dias e não é só frase feita para o Instagram. Sou eu aplicando isso na vida, deixando de lado os ruídos (principalmente os digitais) e aplicando no meu dia a dia uma rotina menos acelerada, menos conflituosa, mais focada em paz e amor.

Está funcionando. Em um mundo onde estamos sempre competindo para sermos os mais rápidos, os mais fortes, os mais amados e os mais f***, você já pensou em desacelerar também e curtir mais essa viagem que é a vida?

Ahí vamos!



abril 19, 2023

De volta às competições de montanha finalmente

Hola, que tal?

Nesta sexta-feira 21 de abril estarei presente no primeiro Campeonato Brasileiro de Skyrunning, participando da prova de Quilômetro Vertical da Jaraguá Skymarathon.

A modalidade do Skyrunning se consolida em nosso país e vamos trazer bastante material em nosso canal no Youtube para vocês ebm como em textos aqui no blog.

O material que irei utilizar nessa prova está todo no vídeo que acaba de sair.

Aqui o link: https://youtu.be/KNxO38jXT8w 



janeiro 24, 2023

 Hola, que tal?

Pensa em uma história bonitinha envolvendo esporte, amizade e intuição. A gente se conheceu em 2013, que foi um ano bastante marcante também no esporte para cada um de nós. Nosso relacionamento como casal viria a se iniciar somente em 2020 mas muito do que trazemos para nossa vida hoje foi graças àquele 2013 esportivo, pois foi onde "nos encontramos" como esportistas.

No vídeo abaixo trago maiores informações, tenho certeza que irão apreciar.

Boa semana!



janeiro 20, 2023

Papo Reto Ep. 28

 Bom dia, boa tarde, boa noite senhoras e senhores. Tudo bem com vocês?

Ah, e feliz ano novo também!

Deixo aqui link para o vídeo desta sexta feira, o Papo Reto Episódio 28, onde falo de algumas mudanças de direção para 2023.

Enjoy!!

Hora de dar um tempo nos pulinhos...