dezembro 10, 2013

Corra (ou ande) para as montanhas

Bem, é isso.

Após a consulta de sexta-feira passada, veio o diagnóstico definitivo: Rompimento do Ligamento Cruzado Anterior (LCA). Aconteceu assim (leia aqui). Totalmente rompido, joelho frouxo. Foi impressionante ver o médico fazer a "Manobra da Gaveta" e sentir a perna solta... Desde então, cinco dias se passaram e cinco milhões de ideias igualmente. A recomendação imediata do especialista é operar, para que possa voltar a fazer as coisas que faço, ter vida ativa, enfim. Quem já sofreu do mesmo problema recomenda igualmente. Li muitos bytes na rede, quase todos unânimes em apontar a cirurgia como solução definitiva.

Não, eu não tenho problema com bisturis e parafusos. Mas a ideia verdadeiramente não me agrada e neste intervalo de tempo tenho consolidado cada vez mais a ideia de apostar em um tratamento conservador e "autônomo" baseado em fortalecimento muscular (algo que jamais fiz), muita paciência e, principalmente, respeito. 

Respeito a esse corpo já cansado. Eu, que cansei de ver atletas amadores cheios de lesões das mais diversas, praticamente todas elas provocadas por sobrecarga nos treinos e pouca recuperação, hoje me vejo passando por uma lesão aguda séria e impeditiva para minha atividade atual (corrida de montanha). Sim, não é possível praticar este esporte com o LCA rompido. De tudo que tenho lido, nada garante que eu possa voltar a praticar o esporte sequer no mesmo nível (amador e entusiasta) que eu estava ao realizar a cirurgia. Li também sobre os casos de infecção, de dores para o resto da vida na parte frontal do joelho e, pasmem, de infecção hospitalar. Isso tudo não me assusta. O que incomoda, na verdade, é dispender um bocado de dinheiro e de TEMPO parado em busca de algo que não é garantido.

Gostei muito do que li aqui: 


Com o tratamento conservador eu posso pedalar, ir à montanha (sem exageros como antes), fazer natação, remar e até mesmo correr de leve, uns trotinhos de 5 a 10 Km no asfalto.

Realmente, tenho que concordar que correr em alto nível ou além do "normal" não se trata de saúde, mas de massagem de ego. Entendo hoje que eu provei desse doce veneno da dita performance, do correr forte (não muito, mas pra mim era), do correr "muito" (longas distâncias no caso). Não me arrependo de nada disso que fiz, de nenhuma competição nem de nenhuma meta traçada e cumprida.

Mas hoje, tenho articulações de um senhor de 65 anos e não de um ser humano saudável e equilibrado de 36 como aponta meu R.G. Um ligamento não romperia assim, em um simples salto, não tivesse eu sobrecarregado tanto meu corpo durante esses quase 20 anos correndo. Minha primeira corrida de rua foi em 21 de abril de 1994, a Corrida de Tiradentes em Maringá - PR, onde com 17 anos fiz 12 km em apenas 48 minutos (algo que eu não sei se conseguiria fazer antes da lesão que tenho agora).

Um ligamento não romperia assim, em um simples salto, não tivesse eu sobrecarregado tanto meu corpo durante esses quase 20 anos subindo montanha. A primeira delas foi o Morro do Anhangava, em 28 de janeiro de 1995. Desde então não parei mais, tendo subido mais de 30 vezes o Pico Paraná, tendo passado mais de 100 noites acampado na Serra do Mar paranaense, carregando mochilas pesando entre 12 e 25 quilos (conforme a trip) por dias inteiros seguidos. 

Sim, isso exige. Pode ser que muita gente não sofra de lesões por conta disso. Elas tem os limites delas. Eu descobri o meu. E aí que entra o respeito.

Que 2014 traga novamente montanhas, e que eu volte a enxergá-las mais como catedrais e não como estádios (*).

Beijos e abraços.

(*) Parafraseando Anatoli Boukreev"Mountains are cathedrals: grand and pure, the houses of my religion. I go to them as humans go to worship...From their lofty summits, I view my past, dream of the future, and with unusual acuity I am allowed to experience the present moment. My strength renewed, my vision cleared, in the mountains I celebrate creation. On each journey I am reborn." 

Algo como: Montanhas são as catedrais onde eu pratico a minha religião ... Eu vou a elas como os seres humanos vão aos templos. De seus altivos píncaros eu vejo o meu passado, sonho do futuro e, com uma acuidade incomum, eu vivo a experiência do presente momento ... a minha visão clareia, minha força renova. Nas montanhas celebro a criação. Em cada viagem rejuvenesço.

O autor deste blog com o joelho imobilizado em breve descanso durante uma leve caminhada na Serra do Mar 8 dias após o rompimento do LCA.

4 comentários:

  1. George,
    Eu acho que seria mais prudente você fazer a cirurgia. Penso que assim, mesmo em um nível menos exigente de desempenho, você teria mais qualidade de vida e menos risco de futuros contratempos! Força aí! Admiro seu blog!
    Abs
    Fábio Hering

    ResponderExcluir
  2. George, eu rompi o LCA em uma manobra de derrapagem de moto (a moto rodou e o pe travou) e os sintomas são iguais ao que você descreveu....isso foi em maio de 2011...eu operei em junho 2011 e similar a você SOU CORREDOR....temos que correr, nascemos para isso...após a cirugia apliquei um protocolo acelerado para a recuperação e comecei natação no mar aqui no Rio de Janeiro....em 5 meses eu voltei pros 10 Km a 54" e depois disso foram mais de 5 meias e a maratona de nova Iorque em 3:43...ou seja: a operação em si é chata, doi, incomoda....mas isso sabemos que é passageiro e voltar a correr SUPERA isso em muito....e meu desafio pra 2014 é IR PRA MONTANHA ! Por isso, OPERE O QUANTO ANTES pois assim você voltar a curtir o mais rápido possível....Vale e Pena e você sabe quanto...além também de cumprir com o seu dever de informar aos seus seguidores o que esta acontecendo....1 abraço e se precisar de algo é so falar, Marcelo Telles Ribeiro - NYCMarathon Finisher

    ResponderExcluir
  3. Obrigado pela força e pela frequente leitura por aqui, amigos.

    Com relação ao joelho, estou colhendo infos.

    Cada organismo reage de um jeito. Vamos ver o que acontece nas próximas semanas com a rodilla aqui =D

    Abração!

    ResponderExcluir