outubro 28, 2014

Fim de festa

Ilustração: Google Imagens.
Não sei (eu sei que tem, mas uso essa figura de linguagem comum) se tem a ver com a desaceleração da economia nacional, mas tem muito mais a ver com a sede no pote e a putaria generalizada que se transformou a modalidade trail running no Brasil.

Já estamos nitidamente do outro lado da onda acima, e para isso apresento uns poucos dados que confirmam:

a) Aumento exagerado na oferta de competições de trail running, principalmente aquelas de longa distância. Hoje no Brasil temos mais maratonas em trilha do que de asfalto. E isso em um mercado consumidor muito menor que o da corrida de rua. Ou seja, corridas de mais para atletas de menos, o que leva algumas provas a contar com menos de 100 atletas. Eu acho super bonitinho o esquema roots, com pouca gente e nada mais que uma linha de largada e chegada. Mas a massa não é assim. A massa gosta de pódio bonito, medalha bonita, troféu bonito, fotógrafo de qualidade, de camiseta bonita e kit bonito. Isso gera um custo ao organizador que se faz necessário repassar aos atletas.

b) De fato em sua grande maioria, os preços das inscrições em corridas de montanha estão elevados. Mas não em todas. Alguns organizadores oferecem valores próximos ao das corridas de rua e certamente dispensam uma boa grana para montar uma estrutura já que o esporte praticamente não conta com patrocinadores. Em 2013 eu corri uma maratona em trilha cuja inscrição custou menos de 100 reais.As marcas do ramo, em geral, não dispõe de tanta verba assim para o marketing. Empresas que são do ramo não veem nenhum atrativo em exibir sua marca e fazer ações de marketing para meia dúzia de gatos pingados no meio do mato. Agora, se você acha que tal prova tem sua inscrição muito cara, faça como eu: fique quieto e não corra. Mesmo que sua intenção seja espernear e "alertar", indignar-se atrás do monitor, você está gerando mídia gratuita para o organizador. Certamente vai despertar a atenção de alguém que não pensa que é tão caro assim e vai lá se inscrever. Ou seja, você foi mané duas vezes.

c) Com esse enorme número de provas, um público consumidor que já é pequeno acaba se pulverizando entre as opções disponíveis. Assim, menor retorno financeiro para organizadores, maior valor de inscrição e está feita a bola de neve. No mês de outubro teve K21 Curitiba. Um ano e meio antes, na primeira edição onde estive presente correndo tivemos algo em torno de 300 atletas. Para 2014, percurso similar (se não igual), o marketing pesado das redes sociais e o expertise da edição anterior. O que rolou? Menos de 150 atletas no total, com apenas 34 atletas concluindo os 10K e chegando a incrível marca de 2 concluintes na distância de 5 quilômetros. Assombroso.

d) Já começo a observar que algumas competições anunciadas estão sendo canceladas. Seria devido ao baixo número de inscritos que acaba inviabilizando eventos? Provável.

e) Redes sociais podem servir ao bem ou ao mal. O trabalho duro de muita gente pode acabar sendo minado e enfraquecido por meia dúzia de desocupados que, infelizmente, não conseguem enxergar além do próprio umbigo. Já vivenciei algumas experiências do gênero, não somente na cena trail runner, mas em diversos segmentos da vida. Aliás, quem não tem aquele colega de sala, de escritório ou de boteco que dissimuladamente tenta de tudo para lhe derrubar? Sucesso é foda... Portanto pensar fora da casinha faz bem. Não se meter na vida dos outros, melhor ainda. Ser Robin Hood de rede social é, mais que patético, profundamente desnecessário, pois não melhora em nada a vida das pessoas.

f) Crise é oportunidade, diziam os chineses. Mas, como ouvi de alguns amigos, assim que a putaria passar, não permanecerão os melhores, mas sim que teve mais juízo financeiro.

g) O ser humano, em geral, aprecia uma tragédia. Dias atrás postei esta foto abaixo, chamando para um post aqui do blog, o anterior:


Um simples nariz ressecado em uma das minhas viagens aos Andes. Foi o dia que o blog teve MAIS VISITAS sendo o post MAIS VISITADO do mês em apenas um dia. Anterior a ele publiquei um assunto bacana, sobre PRINCÍPIOS, sobre ÉTICA, sobre AJUDAR, sobre ser POSITIVO, sobre ser leal. Isso passou batido, não mereceu a mesma atenção que o meu nariz quebrado. Foi apenas um "teste" para que eu confirmasse minhas suspeitas sobre a índole da raça humana (sim, estou generalizando). Assim são as manchetes de jornais e a da televisão. Tragédia e notícia ruim vende mais.

Não quero isso para mim.

Sim, o tempo é de descrença. Não só no mundo virtual, mas também dos relacionamentos humanos no mundo real. Descobrir que podemos contar somente com aquelas pessoas mais próximas não poderia ser assim tão surpreendente.

Mas nunca precisei crer em nada. Prefiro viver.

Retribuir gentilezas, dizer um bom dia, retribuir um favor, ser grato, ter paciência com aqueles que tem dificuldade na execução de tarefas, respeitar opiniões alheias sem atacar as pessoas... tudo isso faria parte do meu mundo ideal. Assim, deixo do lado de fora o mundo que vejo e crio o ideal para dentro da porta de casa, com o lar que ajudo a manter e construir com minha esposa e nossas gatas Biotita e Onça.

Cenário trágico? Traga uma boa notícia, disponha de meia hora para um café e um ofereça sincero aperto de mãos que a gente conversa pessoalmente (que é bem melhor).

Bons treinos!

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