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Pátria Amada, Brasil

 Hola, que tal?

Bem, já começo o texto de forma meio torta não é, com minha tradicional saudação em espanhol e que uso desde 2006 por aqui.

Mas aqui venho falar mesmo dessa complicada relação com aquilo que convencionou-se chamar de pátria.

Isso me lembra das aulas de Educação Moral e Cívica que eu tinha lá no final dos anos 80, ensino fundamental. A diferença entre país, estado, povo, nação e pátria.

Detendo-me ao conceito de Pátria, define-se como algo mais de realidade afetiva. Não e país são termos mais "frios e científicos". Pátria é emoção, é sentimento.

Que é algo que definitivamente um pouco complicado de eu lidar.

E isso vem desde muito muito jovem.

As primeiras lembranças que tenho desse sentimento de pertencer e se identificar a uma pátria vem de 1982, quando eu tinha apenas 5 anos e a seleção brasileira de futebol perdeu por 3X2 para a Itália naquela partida fatídica nas semifinais da Copa do Mundo da Espanha, no que ficou conhecido como Tragédia do Sarriá (este era o nome de estádio). Paolo Rossi carrasco. Aniquilou sem dó um time cheio de estrelas e amplo favorito para a conquista de mais um campeonato mundial.

Éramos o país do futebol, vivíamos ainda na Ditadura Militar, havia aquele patriotismo exacerbado pelo Regime e não me esqueço de quanta gente vi chorando naquele dia. Sofrendo, xingando, desmanchando-se em lágrimas.

Acho que foi esse momento que me marcou mais na sensação que ainda carrego comigo de não-pertencimento a esta nação (ou Pátria? Não sei). Na cabecinha de criança, o Brasil fez meu pai, minha mãe e meus amigos sofrerem. Deixou-os tristes. Carreguei isso comigo por décadas, inconscientemente.

De lá para cá vivenciei momentos extremos de anti patriotismo em minha vida.

Não posso dizer que foi sempre assim e também não posso dizer que a passagem dos anos me tornou mais "brasileiro". Poderia muito bem culpar o futebol por este sentimento tão estranho mas hoje prefiro colocar essa culpa nos astros, afinal aquarianos adoram ser do contra.

Do contra fui eu, assistindo uma final de outra Copa do Mundo na televisão, torcendo em silêncio para a Itália naquelas cobranças de pênaltis em 1994.

Do contra fui eu também, quando praticamente sozinho no Morro do Anhangava eu estava em uma manhã de domingo enquanto o Brasil conquistava seu pentacampeonato no Japão em 2002.

Em outros esportes sempre fui bem torcedor, pode ter certeza caro leitor. Vibrei no ouro do vôlei masculino nas Olimpíadas de 1992, nos títulos do Guga no tênis e nos cumes no Himalaia do Waldemar Niclevicz. Não gostava do Senna mas adorava o Piquet e o Barrichello.

Porém quando pela primeira vez tive a oportunidade de visitar um país estrangeiro, fiz questão de envergar uma bandeira nacional em um cume de montanha na Cordilheira dos Andes e de andar por vários lugares com uma camisa verde amarela da seleção. Senti que nós brasileiros éramos amados na Argentina naquela ocasião em 2009. Não havia esse sentimento besta e patético que muitos brasileiros nutrem contra argentinos. Todos por lá sem exceção nos admiravam.

Uma pena que hoje essa camisa da seleção brasileira de futebol teve muito de sua função desviada por gente e "políticos" com zero respeito pelo país e seu povo, tornando-se quase um símbolo de "bolsonaristas (cadê meu emoji de vômito?)".

Acho que verdade é que não acredito mais muito nisso de nações e pátria. Vejo a humanidade como uma coisa só. Sem distinções de local de nascimento. Uma coisa meio Imagine de John Lennon mesmo. Imagine no countries. Seria melhor assim, eu acho.

No fim das contas, essa condição toda vai além do esporte. É uma questão de sentir e de pertencer. Acontece que hoje me sinto mais brasileiro do que nunca, mais identificado com este país que nenhum de nós escolheu ter nascido e que a duras penas aprendi a amar.

E que apesar de toda a desesperança no cenário político e econômico, aprendi a amar.

Que apesar que desde D. Pedro II tenha havido tanta gente má no controle das decisões dos rumos da nação, mesmo assim, aprendi a amar.

Apesar de um povo conhecido por gostar de levar vantagem em tudo, ainda creio que a maioria é boa, honesta e nasceu neste mesmo país que aprendi a amar.

Nestes 200 anos de declaração da Independência do Brasil de Portugal, fica bem claro para mim que somos um país que pode ser tudo, menos independente.

Escravo e marionete dos jogos dos poderosos que não tem a ver com nações economicamente mais fortes, mas sim com interesses escusos nessa busca incessante por dinheiro e poder.

Mas, vamos lá, deixemos de rabugice e vamos celebrar sim estes 200 anos com verde e amarelo. Porque não é só sobre o feriado. É hora de exaltar o que de belo e de bom temos. Que façamos para 200 anos daqui em diante um Brasil mais justo e pujante.

Obrigado por ter chegado até a aqui.


Cume do Pico Monte do Cerro Franke (4.840m). Argentina - Janeiro 2009.




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