janeiro 16, 2015

Capitalismo malvado né?

Ilustração retirada de um incrível post de Kilian Jornet aqui: http://goo.gl/MyImwh

Palavra em moda, em voga hoje. Influencer... Uma visão de marketing que valoriza a aplicação de força, energia e grana em pessoas ditas formadoras de opinião em detrimento do marketing tradicional, onde o foco é o mercado alvo como um todo. Os influencers podem ser consumidores especificamente ou os formadores de opinião, muitas vezes jornalistas, analistas do setor, consultores. No "meu" caso, atletas e barulhentos de redes sociais.

Assim atuei por alguns anos, mesmo sem saber da existência da palavra/conceito desde quando ainda era montanhista no começo dos anos 2000. Sempre rolava um agrado ou outro da indústria, de distribuidores ou de varejo do segmento onde eu me posicionava. A partir de 2007 a coisa foi ficando mais "séria". Surgiram os projetos (a maioria jamais realizada, como escrevi aqui), vieram várias realizações (no mesmo texto do link anterior) e, principalmente o compromisso com o mercado, com o capital.

Não, não é um discurso marxista, comunista, petralha, vermelho. Mas era basicamente isso: compromisso com o mercado também. Assim como você vende as suas horas de trabalho e seu conhecimento (pelo qual pagou também de alguma forma), eu vendia a minha imagem para me associar a alguma marca/entidade em troca de produtos e experiências. Capitalistas somos todos nós.

Foram bons tempos. Porém, não cabia mais. O fio virou. A conclusão lógica foi fácil: já "vendia" demais este corpinho aqui. São 44 horas semanais que vendo meu conhecimento justamente na mesma área (marketing). Já está bom né? Considerando uma semana tem 168 horas, que durmo 49 horas por semana, que em deslocamento ao trabalho dispenso 15 horas e demais atividades da casa me tomam outras 10, resta o que? 50 horas. Parece muito não é? Realmente é bastante e acabei entendendo que não valia a pena vender estas 50 horas por menos do que vendo as 44 regulamentares de C.L.T.

Apenas uma questão de valorizar o conhecimento obtido nestes anos todos.

E também questão de como isso era vendido. De valores que, no fundo, não me faziam verdadeiramente bem. Vender mais, mais e mais. Consumir mais, mais e mais. Pura ansiedade gerada na expectativa dos likes e comentários, fossem eles positivos ou negativos. Afinal, o que vale é causar, certo? Polêmicas vendem... Imagens do por do sol, do último modelo de calçado que chegava via correio "gratuitamente", da viagem que não saía literalmente do meu bolso (mas da alma vendida).

Constatar tudo isso caiu como uma bomba em mim no final de 2014. Aliado a isso, uma falta de profissionalismo nas relações comerciais que tive que conviver nos últimos meses do ano. Aí deu.

O resultado lógico, como disse: vendendo barato a alma. Agora ela está armada e apontada para a cara do sossego :)

A quem vive disso, quem ganha a vida com isso, dou meus parabéns. Belo trabalho.

Agora, sinceramente. Se para "inspirar" alguém basta fazer umas fotos no instagram, escrever coisas fofis ou polêmicas no facebook e tirar foto para o like de alguns, eu não sei mais o que é inspirar.

Sou da velha geração, onde inspiração vem de quem FAZ as coisas e não de quem MOSTRA que faz, ou PARECE que faz. Inspiração tem mais a ver com atitudes perante a vida como um todo do que com filtros ou com o novo calçado na trilha ultra-hiper-mega-irada.

Eu não acredito que seja inspiração para ninguém, nunca pretendi ser. Meu jeito de ver a vida, de viver, é apenas meu. É uma soma do que vivi, da minha história. Anton Krupicka vive a vida dele cabeludo e correndo sem camisa porque é bom para ele. Se meu cabelo cresceu e corro sem camisa é porque assim me sinto bem. Se uso o tênis igual do Zé da Esquina, é porque me faz bem também. Inspiração vai mais além do que cortes de cabelo e óculos coloridos.

A atual geração parece estar tão perdida e com a mente anuviada com essas informações todas que recebem em uma timeline sem fim. Aliás, quem já parou para pensar nisso? Sites como o facebook, twitter e instagram que NUNCA acabam. Basta descer a barra de rolagem ao infinito e você é inundado de informações, geralmente filtrada de acordo com os seus interesses. E com isso gerando mais divisão do que união. Tudo se divide, todos se separam. Você só tem amigos do círculo da corrida ou da montanha? Desculpe, mas você é mais pobre do que quem ganha meio salário mínimo por mês...

A ficha caiu quando descobri que podia ir às montanhas me divertindo e pagando do meu bolso por tudo que precisava para estar nela (o deslocamento e os equipamentos, estes reduzidos ao mínimo necessário por sinal). Liberdade.

Nas minhas alvoradas pelas estradas e trilhas eu busco principalmente o encontro comigo mesmo, com minhas dúvidas, medos, anseios e questionamentos.

Minhas expectativas agora apontam para um (sub)mundo trail-runner-mountain-whatever com menos influencers e mais "people-doing"!

E menos expressões em inglês também, claro.

Abraços!

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