agosto 12, 2010

Review - Tênis Nike Free Run +



Oh! Aff! Hein?!

Pois é. O Volpão perdeu o amor por 299 reais e adquiriu o novíssimo Nike Free Run+, aquele que o site do fabricante promete levar ao corredor a sensação de se estar correndo descalço.

Quem me conhece há mais tempo sabe que sempre torci nariz para marca norte-americana que criou o conceito de que tênis com amortecimento é bom... O ardiloso Bill Bowermam, um dos fundadores junto com Phil Knight, conseguiu uma proeza digna de um prêmio nobel do marketing, se é que esse existisse: além de criar um produto, os tênis com amortecimento, criou uma demanda para ele, visto que até então, as pessoas corriam sem esse tipo de calçado. E corriam bem. Não se ouvia falar em lesões, tendinites, banda íleo-tibial fascite plantar, entre outros palavrões. Bastou o mercado começar a nos vender a idéia de que tênis com amortecimento é bom que os problemas começaram.

Considero-me um privilegiado por correr há quase duas décadas e jamais ter me lesionado, ao contrário de muita gente que conheço. Comecei a correr descalço ou tênis mínimo há menos de dois meses e já noto uma diferença "gostosa" na corrida. Sinto mais prazer, isso é fato, ao correr com apenas cento e poucos gramas em cada pé. Em vez de buscar um tênis de 500 pila que "corrigisse" algo, apenas assumi o que Deus me deu: pés perfeitos para correr, algo que a imensa maioria das pessoas possui, mas que acabam escondendo dentro dos modernos apetrechos que nos são empurrados por parte da mídia.

Mas não é por esse motivo que nunca fui fã da marca. Deixo também de lado episódios como a final da Copa do Mundo de Futebol de 1998 (quando boatos sugeriram que por pressão de seu patrocinador, o astro Ronaldinho teria sido "forçado" a entrar em campo mesmo sem condições). Esqueço também as acusações de uso de trabalho infantil em fábricas no Extremo Oriente. O que mais me provocava asco na marca era o seu marketing, sempre voltado ao consumo, consumo e consumo. Pirotecnias como o Desafio dos 600K, em minha opinião beira o abuso do capitalismo. Trata-se de uma corrida, supostamente épica, onde os escolhidos são atletas de boa condição financeira, ou seja, potenciais consumidores da marca, que pertençam a assessorias esportivas também elitizadas. Jornalistas também são convidados, é claro, para criar aquele lance da boa imagem junto à imprensa. Com certeza a empresa faria muito melhor se investisse essa grana toda patrocinando algum projeto de revelação de jovens talentos. Mas, opa! Jovens talentos não compram tênis e esse tipo de ação nem tem tanta visibilidade... Agora dar tênis e outros mimos a atletas que pagam até 250 mensais para treinar com assessorias e esses fazerem a propagandinha dentro das academias para os amigos comprarem o tênis da marca. Ah, isso sim. Enfim, capitalismo. Admito que os caras do marketing da Nike são realmente geniais. Mas acho que marketing não produz tênis de qualidade. E a concorrência oferece calçados bem superiores.

Como sou isento, tirei grana do meu próprio bolso para testar o tal Nike Free Run+ que, repito, o site anuncia como um calçado que proporcionará uma sensação quase como de correr descalço. Afinal, após me encantar com o Brooks Green Silence, pretendo provar todo e qualquer tênis mínimo que possa me proporcionar essa sensação gostosa que tenho ao correr "quase descalço". Encarei o Nike Free Run+ pois é assim que a Nike o vende. E também porque estou longe de ser uma pessoa com idéias pré-concebidas e que não muda de opinião. Paguei para ver (não o recebi de brinde em nenhum kit). Estava realmente afim de ver se o tênis era mesmo isso que a propaganda dizia. E eis o veredito:

Não.

Vejamos porque:

Visual:

O típico da Nike. Super bem apresentado, diria até mesmo que é um belo tênis. curti a combinação de cores do modelo que adquiri, em tons de cinza e com a logo em vermelho. Visualmente dou nota 9 a ele.

Calçando-o:

Achei muito fácil de calça-lo. O cadarço é daquele modelo plano, bem simples e sem cores berrantes. A primeira impressão que recebi nos primeiros passos, ainda dentro da loja, foi que o tênis prometia um desempenho muito bom. Senti que tinha em meus pés um verdadeiro calçado de corrida, os chamados flat. Porém, há uma grande distância entre o que podemos chamar de flat e um calçado minimalista. Ainda achei o Nike free Run+ um pouco gordinho demais para um calçado mínimo, que é como Nike tenta vendê-lo. Eis o motivo da grande decepção. Comprei essa bagaça pensando que iria correr como (ou quase) se estivesse descalço, com sensações semelhantes que tenho ao correr com o Brooks Green Silence ou com a sapatilha Okean Maré. Não tem nada a ver. E isso, em meu entender, é uma falha grave do fabricante. Portanto, se já havia uma antipatia com o marketing dos caras, imagina agora. Vender gato por lebre é feio e abomino essa prática. Fica a decepção. Mas, como tênis flat, baixinho, buscando velocidade, achei-o bem confortável.

Performance:


Notei que ao imprimir um ritmo mais veloz com essa belezura o tênis pareceu responder mais eficientemente. Quando baixei dos 5min/km a passada se tornou mais fluida e mais confortável do que quando amassava o asfalto em meu ritmo pangaré. Isso me faz crer que é um tênis para quem quer acelerar. Para corridas curtas é um bom tênis, apesar de achá-lo mole demais. Ora, se a idéia é representar com tênis, as sensações que se tem correndo descalço, para que tanta borracha? Teria sido muito mais eficiente eliminar aquele monte de petróleo da entressola estilosa (vide foto ao lado) e flexível e botar o corredor pra sentir as imperfeições do solo. Achei esse conceito totalmente furado, parecendo apenas ser uma estratégia de design pra deixar o tênis diferente e provocando aquele "Oh!" quando se flexiona a parte anterior do bendito. Um lance que achei um pouco incômodo é o fato do solado reter muitas pedrinhas entre suas ranhuras extremamente flexíveis. Ao correr, isso faz um barulho bem chato. Mas, pode ser que isso seja apenas mais uma rabugice minha.

Impressões finais e pessoais:

Um tênis razoável para correr. Se você desconhece a propaganda que diz que ele pretende trazer a sensação de correr descalço, então a situação melhora. Eu me decepcionei porque esperava que a propaganda cumpriria o prometido. No fim das contas, o tenizinho vai ficar no armário e será lembrado apenas naqueles dias em que tiver que rolar aquele treino mais solto entre 6 e 10K. Para treinos de asfalto mais comprometidos catarei outra opção. Nota 7 para o tênis em si. E nota zero para Nike, pela enganação.

Um grande abraço a todos.

5 comentários:

  1. Valeu !!! Tava namorando e agora nao vou nem chegar perto.
    Tenho corrido com o hyper speed e é impressionante como é muito melhor correr com tenis flat e fino.
    A minha esposa me deu um pro runner 12. usei hj, mas achei estranho.

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  2. Economizei 300 pilas! Agora, será que esse monte de lesões que ouvimos falar hoje em dia não tem haver com com a quantidade enorme de pessoas correndo e com a forma que a informação está disponível hoje em dia? Talvez esses problemas sempre estiveram entre os corredores mas a divulgação era menor. Sei lá!

    Anyway, bom review!

    Abraço

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  3. Obrigado pelo comentário, galera!

    Luiz, acho que esse monte lesão rolando é um somatório de fatores, inclusive esse que vc cita, sobre a quantidade de gente correndo sem tanta orientação assim e, principalmente, partindo para grandes cargas de treino sem antes passar pelas distâncias menores... O que posso afirmar com segurança é que, na minha realidade, os tênis de perfil bem baixo nunca causaram problemas, ao contrário do que muitos fabricantes dizem. Eles falam que precisamos de amortecimento, controle de pronação entre outras coisas. Nossos pés são perfeitas criações divinas para as corridas há milhões de anos. Lendo o livro Nascido para Correr, me convenci que realmentes temos a corrida dentro de nós, como parte da evolução. Nascemos para correr e não para caminhar nem, principalmente, passar os dias sentados no sofá.

    Voltando ao tênis, é como disse. Vale experimentar, mas não com a intenção de que ele represente a corrida descalço e suas sensações. Se a pessoa quer começar a correr, é iniciante, acho que é uma boa opção, assim já se livra desse vício do emrcado de querer nos empurrar tenis com tecnologias de amortecimento, controles, suportes e essas bobagens todas.

    Abraços!

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  4. Pois é, meu amigo George Volpão! Eu também já havia notado que ele não tem nada de mínimo, e se não me engano, a própria CR de Setembro tinha uma matéria mostrando isso.
    Legal que você é um cara aberto às experiências, apesar do senso crítico, e agradeço ter compartilhado conosco de forma minuciosa o que detectou ao correr com mais esse produto de marketing. Um amigo também adquiriu esse tênis e não gostou muito. Ele foi para Miami e aproveitou a oportunidade, mas se arrependeu.
    Abraços,
    Joel

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  5. Uma coisa eu posso agradecer ao Nike Free. Há uns 4 anos, foi o marketing da Nike que me fez ficar ligado nos benefícios da corrida descalça, embora eu não tivesse descoberto o movimento (realmente) descalço.

    É verdade que hoje em dia o marketing da Nike faz vc acreditar que o Free é como correr descalço, mas quando ele foi lançado, havia 3 diferentes modelos: o 5.0 (original e equivalente ao Run+), o 3.0 e o 7.0.

    Esses números indicavam, numa escala de 0 (descalço) a 10 (motion controlled shoe), o quanto o Free se assemelhava ao correr descalço. O panfleto que vinha com o tênis falava que, se vc tirasse a palmilha, vc ainda reduziria 0.5 na pontuação, ou seja, vc teria um Free 2.5, por exemplo.

    Hoje em dia, o que sobrou é um marketing descarado, dizendo que o Free é como correr descalço, quando na verdade ele é um híbrido: ele tem a flexibilidade do pé descalço mas o amortecimento de um tênis convencional.

    Neste post, Volpão desmascara o marketing da Nike! Volpão também é utilidade pública.

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