janeiro 29, 2024

Vamos pra cima!


 Hola, que tal?

Após um último post um pouco pessimista, volta o sol e a alegria a brilhar neste que vos escreve.

Mesmo após vários dias buscando me recuperar o mais rapidamente possível da citada gripe, ainda encontro traços dela em meu pulmão.

Ainda com  uma tosse cheia de muco nesta segunda-feira, mas com o restante do corpo começando a responder melhor.

Um pouco de falta de ar se faz presente em cima da bike, nas subidas principalmente.

Semana passada corri na terça e na quarta-feira, como deslocamento do trabalho para casa. Coisa pouca, 30 minutinhos com apenas uma subida. Mas o suficiente para me fazer caminhar já que a ideia é manter a FC o mais baixa possível. Qualquer esforço a mais, o coração já bate 170 ou mesmo 180 BPM, o que não ajuda em nada no momento.

Sábado teve o Pedal Bike4U e pude me testar por lá, fazendo aproximadamente 40 Km com a Sense Versa Comp que tá quase batendo os 1.000Km comigo.

Foi bem sofrido, já havia feito esse mesmo trajeto em um pedal anterior em novembro passado e a diferença nas sensações foi gritante. Dessa vez bem mais difícil, mais pesado, mais sem ar.

Entender e aceitar que isso faz parte do jogo é necessário. Para não sofrer desnecessariamente.

Daqui 3 dias viajo para Belo Horizonte para a minha primeira participação na Cambotas Trail Fest. Certamente o evento mais emblemático do cenário trail runner no primeiro semestre deste ano e que fico muito contente em estar por lá.

Se, mais uma vez, não chego em uma prova nas melhores condições físicas, a cabeça pelo menos está confiante de que vou lá principalmente para tentar captar um pouco da experiência do lugar e das pessoas e poder compartilhar com vocês no canal lá do YouTube. 

Então... segue por lá que vem cosia boa :)

Ótima semana, vamos pra cima!







janeiro 22, 2024

A gripe do ano

 
Hola, que tal?

Senhoras e senhores, mal começou o ano e a gripe do ano já chegou. E no momento que escrevo estas linhas, parece estar indo embora, felizmente.

Última foto pré-gripe. Com Mari Baldissera

Eu que nunca fui muito afeito aos frios consultórios médicos e tampouco a potentes medicamentos antigripais me vi cedendo pelo menos a uma cartela de dipirona para segurar a barra que é gostar de pegar uma gripezinha.

Começou na quarta-feira, logo após um treininho de corrida seguido de um café com a amiga Mari Baldissera, que agora mudou de status. Era amiga das redes e agora finalmente nos conhecemos pessoalmente. Eu já havia conversado bastante com ela, inclusive para o canal cascalho.cc onde ela relatou como foi sua marcante participação na Aconcágua Ultra Trail. Assista depois, ao final do texto. 

Aliás a Mari tem uma verve e um estilo muito peculiar ao escrever, deixo aqui o instagram onde ela compartilha muito do que passa naquela cabeça geminiana. Valeu a companhia, Mari! Sei que não foi você que me passou esse vírus bandido...

No decorrer daquela quarta-feira da semana passada 17 de janeiro, ao chegar no trabalho começo a sentir as pernas pesadas e a cabeça latejar.

O suficiente para o rendimento profissional despencar e só conseguir pensar em cama. Mas ainda bem esperançoso, uma vez que geralmente as gripes e resfriados que me acometeram durante esta vida quase sempre regrediam em seus sintomas após uma boa noite de sono.

O que não foi o caso desta vez. Até mesmo porque eu tive tudo exceto uma boa noite de sono.

Nariz trancado, dores por todo o corpo e até mesmo uma leve febre me castigaram por todo o período até a manhã seguinte. Mal conseguia permanecer em pé pela manhã.

Mesmo assim, sempre confiante que tudo passa, tudo passará, de volta ao trabalho. Pelo menos agora eu fico de certa forma "isolado" dos demais companheiros de trabalho, em uma sala exclusiva, onde nao correria risco de transmitir doenças aos camaradas.

Lancei mão então da dipirona que me aliviava os sintomas e me permitia produzir um pouco. Porém, aquilo que mais gosto de fazer na vida, que é estar com o corpo em movimento... sem condições.

Até tentei fazer uma leve caminhada mas foi um dos "eventos esportivos" mais sofrido dos últimos anos. Caminhar 1 quilômetro foi mais duro do que fazer a Indomir Bombinhas do ano anterior (leia aqui).

Assim chegava ao fim, tão no início, a proposta de fazer atividade física em cada um dos 366 dias deste 2024. 

Poucas vezes ansiei tanto por uma sexta-feira. Infelizmente não pude estar presente no pedal inaugural do ano da Bike4U que rolou no sábado. 

Passou a quinta, passou a sexta... assim como passaram o sábado e o domingo, dias estes por sinal que não coloquei o nariz para fora de casa, algo que não fazia havia alguns anos... isso de passar dois dias "trancado" em casa.

Tive aquela nítida sensação de que todos estavam se divertindo menos eu. Todos na montanha, na praia... e eu doente.

Malditas redes sociais né? As bolhas em que vivemos e que nos cegam para a realidade do mundo. O que é real é que nossa bolha faz as coisas que gostamos, que apreciamos. Mas o 98% do mundo que é fora dessa nossa bolha não. Essa maior parte também fica doente, também tem que trabalhar aos finais de semana às vezes, também "inveja" aquilo que a gente compartilha nessas também doentias ferramentas.

Falando delas, tenho estado novamente ausente por lá... Sinto-me mais feliz em dispender minha necessidade de colocar pensamentos para fora aqui em um teclado neste longevo blog. Em 2024 estou completando 17 anos de escrita ininterrupta aqui.

Nesta manhã de segunda-feira, 22 de janeiro, sinto-me relativamente melhor. Ainda sem muito apetite, graças muito aos limões, gengibres e dipironas sinto-me quase pronto pra retomar assuntos mais condizentes com quem se propõe a uma vida ao ar livre, nas montanhas.

Neste novo ano, estive no Morro do Anhangava já no primeiro dia, no dia 01. E não voltei mais. Estou em uma relação ambígua com a montanha e tratarei disso no próximo texto.

Por enquanto, registre-se que a gripe não me derrubou desta vez (nem pra covid-19 eu testei positivo), e que 2024 já chegou com dois pés na porta. Agora é renascer. Se já venci uma pesada gripe nos primeiros dias do ano, vejo como bom sinal do que vem pelos 11 meses restantes em 2024.

Excelente semana a todos vocês!



janeiro 15, 2024

To me guardando para quando o carnaval chegar

Hola, que tal?

É com um verso de música de Chico Buarque que inauguro 2024 aqui no blog. Não que eu seja fã do cara, nem gosto nem desgosto. Ouvi na verdade esse som na voz de Humberto Gessinger, eterno engenheiro do hawaii e fiquei aqui fazendo minhas considerações e filosofias em cima da letra. Irei deixar música e letra abaixo para vocês.

É a atual fase, quem sabe esperando o carnaval, literalmente aguardando ou se guardando.

O fatalismo da frase que diz "O Brasil só começa depois do carnaval" é um pouco assustadora para mim. Eu juro que gostaria de entender e, principalmente, aplicar as resoluções de ano novo, aquela que a gente faz antes da virada e diz "agora vai ser diferente". 

Como se um simples completar de translações terrestres fosse capaz de mudar algo na vida. Ok, convenções sociais são importantes, datas, calendários, números.

E, como disse, juro que gostaria de entender e realizar as mudanças que acho serem necessárias na minha vida.

Mas, mais uma vez, irei deixar para quando o carnaval chegar.

Que em 2024 irá ocorrer em uma época propícia, logo após o meu aniversário (que será na segunda feira anterior ao carnaval) e no final de semana seguinte àquela que muito provavelmente será minha única prova de corrida em trilha em 2024, a Cambotas Trail Fest.

Sentindo os "ventos da mudança" (para mais uma alusão musical, referente à Wnd of Change dos Scorpions), seguirei um pouco mais recolhido e quieto, tanto na vida digital como na pessoal, sem muito contato estreito com pessoas.

E quem sabe, quando o carnaval chegar, eu volte a estar mais participativo, mais presente nas coisas que importam.

Vejo vocês em breve, feliz 2024!


Quando o Carnaval Chegar

Chico Buarque

Quem me vê sempre parado

Distante, garante que eu não sei sambar

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Eu tô só vendo, sabendo

Sentindo, escutando e não posso falar

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar


Eu vejo as pernas de louça

Da moça que passa e não posso pegar

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Há quanto tempo desejo seu beijo

Melado de maracujá

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar


E quem me ofende, humilhando, pisando

Pensando que eu vou aturar

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

E quem me vê apanhando da vida

Duvida que eu vá revidar

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar


Eu vejo a barra do dia surgindo

Pedindo pra gente cantar

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Eu tenho tanta alegria, adiada

Abafada, quem dera gritar

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar


Mas eu já tô indo embora

Um outro que agora me tome o lugar


Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar





novembro 05, 2023

Indomit Bombinhas 42K 2023 - Relato de Prova

 Essa é a história da minha participação na Indomit Bombinhas 2023, distância de 42 quilômetros.


Em 2013 eu estava no meu melhor ano esportivo. Não apenas nos resultados do tipo pódio de categoria no trail running, algo que nunca, jamais eu persegui. Sempre corri pelo desfrute e pelo desafio pessoal. Nunca foi contra alguém.


Porém eu começava a colher o resultado da dedicação.Tanto nos treinos como em um certo reconhecimento, por estar desenvolvendo um trabalho consistente na promoção da modalidade. Eu escrevia bastante, inclusive para revistas que nem eram especializadas em trail. Começava a receber convites para correr provas. Com tudo pago, acreditem. Passagens aéreas, hotel chique, refeições, etc.


Porém em novembro daquele ano em um treino bobo eu rompi meu ligamento cruzado anterior do joelho direito, episódio que já contei inúmeras vezes por aqui.


E com isso, aliado a um profundo desânimo em voltar a correr, tratamento caro e demorado, 2013 se tornou o ano em que corri minhas últimas maratonas em trilha, a K42 Bombinhas em agosto e a Ecocoross em Brasília em setembro.

Perdi a conta de quantos ensaios e recomeços desde então. Após um exílio dolorido mas importante entre os anos de 2015 e 2019, aos poucos fui novamente me interessando por me desafiar em alguma competição.

Nesse meio tempo estava bastante dedicado aos pedais e correndo eventualmente, sem pressão, só para curtir. Até fiz uma ou outra provinha na rua. Mas em 2019 fui convidado pelo Juan para correr pelo menos os 12K da Indomit Bombinhas. Aceitei, fui e me diverti demais. Ali a chama acendeu com maior intensidade e decidi me dedicar mais intensamente.


Mesmo assim, acabei levando estes quatro anos para retornar ao evento (ok, teve uma pandemia no meio).


E no começo do ano já estava decidido a encarar os 42Km. Eu PRECISAVA disso. Uma motivação para retomar a uma maratona. e TINHA que ser esta, que foi a minha primeira, lá em 2009, e que foi também a primeira maratona em trilha do Brasil.


Aos trancos e barrancos consegui me preparar minimamente para ela. A saída de um trabalho de mais de uma década junto à Jamur Bikes, uma tentativa ilusória e relativamente fracassada de decolar o canal do Youtube, uma viagem louca e maravilhosa à Paraty para participar do lado de fora da Paraty by UTMB e um novo e encantador desafio profissional junto à Bike4U bagunçaram um pouco minha vida esportiva em 2023. Ainda bem que eu havia construído uma base relativamente sólida no primeiro semestre, treinando principalmente por conta, após a saída da Equipiazza em maio. De junho a setembro eu consegui finalmente me livrar das dores generalizadas e ser consistente nos treinos de corrida. Finalmente me senti com um norte na corrida.



Na semana da prova, a ansiedade era grande. Iria viajar já na quarta feira anterior ao evento. Já tinha me comprometido com isso e as folgas no trabalho já estavam acertadas. Queria viver o clima da cidade antes do evento, poder correr em algumas trilhas nos dias anteriores e desfrutar um pouco de silêncio e paz além da oportunidade de fortalecer relações.


Nem mesmo os dias cinzentos por lá tiraram o entusiasmo que estava tomando conta de mim.


Corrida ali nas trilhas da Praia de Quatro Ilhas, refeições e rolês aleatórios, barulho do mar… Ah, a vida é melhor junto ao mar, certamente.






Na sexta-feira anterior à prova, na retirada de kit, o encontro com velhos e novos amigos. Ah, essa vibração que eu gosto… A Indomit Bombinhas, mesmo com praticamente 700 atletas neste ano, mantinha seu clima familiar. Ser convidado para um evento como esse é absolutamente irrecusável e era questão de honra estar lá presente, conversar, motivar, PARTICIPAR EM COMUNIDADE. Queria ali fazer por merecer tanta atenção e carinho a mim dedicados. Valorizo cada convite que recebo. Deve ser por isso que sempre recebo o mesmo tanto de volta daqueles a quem me dedico. 


Na manhã da prova, dia nublado como de praxe mas com previsão de abrir um pouco o sol durante o dia. O percurso das mais recentes edições era um pouco diferente do que eu havia percorrido na década passada, englobando mais trilhas e mais desníveis. A prova tornara-se mais dura, fato que os mapas e a altimetria me alertaram.


Largamos pontualmente às 7 da manhã pela Praia de Bombinhas. Percurso já bastante conhecido por mim, desvio à esquerda, sobe pela rua de acesso à Praia de Bombas, neste novo percurso, percorremos o trecho todo desta praia até desviar à esquerda por uma rua transversal ao mar e começar a subir. Poucas centenas de metros à frente uma congestionada entrada na trilha, devido ao piso escorregadio e necessidade do uso de corda auxiliar para o barranco. Após um mimimi generalizado de atletas que não leram a parte do regulamento onde se recomenda que atletas mais lentos deem passagem aos mais rápidos, dei de ombros e segui fazendo a minha prova, passando por aqueles que correm rápido no plano mas não sabem ultrapassar um simples obstáculo sem reclamar.





Haviam pouco mais de 4 quilômetros de terreno praticamente plano e ao nível do mar e  agora era hora de uma subida na mata até aproximadamente a cota 230 na chamada Trilha do Valtinho, coisa de 3 km. Duro, senhoras e senhores. Bem duro. Trechos de até 45 graus de inclinação, uso de cordas auxiliares, trilhas escorregadias… puro trail running. A inserção deste trecho na prova proporcionou a receita completa de um percurso técnico e desafiador e ao mesmo tempo com trechos facilmente corríveis. No fim das contas, por mais que tenha se tornado mais dura, ficou mais “trail” mesmo.


Após um íngreme descida que nos despachava para um gostoso pasto morro abaixo até o primeiro ponto de apoio, por volta do quilômetro 9, o que viria pela frente era conhecido.


Ali neste primeiro P.A. me reabasteci com 500ml de água e alguma comida sólida. Estava com a estratégia que havia funcionado nos 25K da Ultra dos Perdidos três meses antes: aproximadamente 80 a 90g de carboidrato por hora, alternando entre líquido, gel e sólidos como paçoca e goiabinhas. Estava funcionando a alimentação. Porém na hidratação acho que falhei um pouco até então, consumindo menos líquidos que o necessário. Infelizmente só me dei conta no meio da trilha seguinte. Aquela que depois de subir a agora asfaltada estrada que leva ao Morro da Antena, quebra à esquerda quase sempre subindo até o ponto mais alto antes de descer para a trilha da Costeira de Zimbros. Pouco mais de 7 quilômetros de trilha no total até finalmente voltarmos ao nível do mar e após um trecho de areia fofa, atingir o ponto de apoio seguinte, onde eu cheguei com zero água.





Sem pressa, me abasteci com vontade tanto com água como com carboidrato líquido. Aí acho que vacilei um pouco, pois depois desse P.A. passei a lidar com certo desconforto gástrico. Felizmente não perdurou por muito tempo e logo após finalizar o trecho de uns 5 quilômetros pelas praias de Zimbros, Morrinhos e Canto Grande, logo após o terceiro ponto de apoio, volto a me sentir melhor, voltando a hidratar apenas com água e consumir o que estava habituado, conforme estratégia anterior.


A trilha seguinte, que nos leva até a Praia da Tainha, parece fácil analisando mapas e altimetrias. Mas é um pouco travada com pequenos topes de um ou dois metros que vão minando as já parcas forças das pernas. Por ali, caminhei mais do que eu esperava. O esforço no trecho inicial lá da Trilha do Valtinho começava a cobrar o seu preço.


De toda forma cheguei bem ao início da inclemente subida rumo ao P.A. 4, desta vez sem passar na Praia da Tainha, desviando-se dela um pouco antes. Não achei ruim, evitava descer uns 50 metros para ter que subi-los novamente, como era no percurso das edições anteriores.


Mas a subida pelo estradão era a mesma… dolorida, íngreme, parecia sem fim. E agora com sol. Sim, senhoras e senhores, o sol resolveu sair e sair com vontade. Felizmente para mim, que adoro correr nestas condições mais adversas e utilizando da minha experiência para fazer o que deve ser feito: hidratar-se corretamente e repor carboidratos.


Ali estávamos por volta do Km 28 e pela primeira vez tive a certeza que finalizaria a prova dentro do tempo limite que era de 8 horas. Um tempo bastante exíguo dada a dificuldade da prova, bem diferente de uma La Mision que, apesar de maior altimetria, você tem praticamente uma vida toda para completar os 50 e os 80 km, permitindo que se faça a prova praticamente caminhando o tempo todo. Na Indomit Bombinhas era diferente. é necessário correr. E não poderia ser muito devagar.


Desci a pirambeira pela estrada de terra e paralelepípedos em um bom passo, coisa de 6min/km, o que para mim naquele momento era bastante rápido dado o estrago que já carregava nas pernas. Até poderia descer mais rápido, mas sabia que precisaria de musculatura mais à frente.


Enfim, o trecho que considero mais difícil mentalmente falando, a Praia de Mariscal. São uns 5 quilômetros de areia bem batida mas que parecem intermináveis. Havia o sol, havia os banhistas e havia uns pontos de referência para colocar como meta e distrair um pouco das dores comuns a quem está passando da marca dos 33 quilômetros em uma maratona.


No fim, deu boa e praticamente “ignorei” a subida seguinte, no quente asfalto da estrada de acesso à essa Praia e que nos levaria ao sexto ponto de apoio (o quinto ficava no meio da Praia de Mariscal e era basicamente água e paçoca). Ali, finalmente na Praia de 4 Ilhas, a tradicional melancia e uma cadeira para descansar uns minutos.


Toca para a praia para, então, fazer o trecho mais cênico da prova, a mesma trilha que havia corrido na quinta-feira anterior e que proporciona maravilhosas fotos. Aliás, falando delas, o que vocês veem por aqui é parte de um pack de fotos que adquiri antecipadamente na FotoP.





Realizado o trecho de trilha, voltamos à 4 Ilhas, encontro o apoio incondicional e vital da Vera Lúcia, companheira de tantos treinos, lamentos, desabafos e bons momentos na fase de preparação para a Indomit e que estava lá depois de ter finalizado a prova dos 12 Km. Foi muito massa encontrá-la por lá. Deu um ânimo novo e segui para aquele que é a pá de cal em quem não estava assim tão preparado: subir um concretão até entrar na trilha que leva ao Costão de Bombinhas, trecho a beira-mar bastante técnico e também muito cênico.


Mas mais complicado é sair dali. Sobe e sobe forte para depois despencar rumo à Praia do Retiro dos Padres, onde eu estava acampado. Neste trecho passei por bastante gente que realmente começava a sentir o peso da distância e do sol que havia saído anteriormente. 

Agora ele já não nos castigava como antes, mas ainda estava bem abafado.


Último ponto de apoio, última água e última subida. Uma passada ao lado da barraca (abraço, Martin, companheiro do camping) e então a tradicional passagem pela maravilhosa Praia da Sepultura, absolutamente lotada de turistas. O que não é difícil de acontecer pois ela é minúscula, menos de 50 metros de extensão.


Quilômetro final da prova, Um misto de alívio e realização. Lidei com incertezas nas semanas anteriores, cogitando até mesmo desistir da prova, fazer os 12 Km talvez…


Mas, como mencionei antes, valorizo os convites feitos e vou até o fim. Deu certo. Longe de uma performance que eu esperava no início do ano quando me inscrevi, mas muito satisfeito por ter conseguido fazer uma prova equilibrada. Sem pontos baixos, sem bad. Quilômetro por quilômetro, trecho por trecho, praia por praia. Consistente, sem pressa.  Consciente daquilo que eu podia entregar. Apenas terminar a prova. VOLTAR. RENASCER.


Ali nasci como corredor de longas distâncias em trilha e, 2009 e agora em 2023 eu renasço.


Para agradecer todos os responsáveis eu precisaria de um post inteiro dedicado a isso. Fiz algo assim no meu Instagram, onde mencionei exclusivamente os profissionais envolvidos nesse processo e que, embora solene e tristemente ignorado por alguns, me trouxe muito conforto o reconhecimento daqueles que entenderam o sabor dessa vitória pessoal e que compartilho essa conquista. Escolho ficar com os bons.


Mais à frente, um post mais técnico, falando dos equipamentos utilizados, da estratégia de alimentação e hidratação também em detalhes bem como foi o treinamento. E, claro, os próximos passos.


Muito obrigado por ter chegado até aqui. Não cruzei esta linha de chegada sozinho. Levarei todos vocês para as próximas. Pois como diz o lema da Indomit, que utiliza de uma frase atribuída ao pacifista Mahatma Gandhi, a força não provém da capacidade física. Provém de uma vontade indomável. 



setembro 07, 2023

Procurando Independência

Feriado de Independência. Dia que sempre teve muito significado pra mim no que se refere à experiências de montanha. Minha primeira vez no Marumbi foi em um 07/09 em 2000. No Pico Paraná também foi em um 07/09. Em 2001.

Em 2021 eu estava pedalando no Vale Europeu sob chuva fria. Em 2017 eu fui pro Morro Itapiroca de bike até o início da sua trilha, fiz uma boa subida e descida correndo e voltei de bike pra casa. São incontáveis histórias.

Diferentemente em 2023, um dia simples, cinzento, com uma corridinha mequetrefe, me equilibrando entre ganhar endurance ou destruir o que resta de um sistema músculo-esquelético cansado.

Nada como um day after day como diz a canção e, de preferência, alone on the hill.

Bom feriadão a todos.






julho 21, 2023

Ultramaratona dos Perdidos 2023 - 25K (parte final)

 

(continuação do post anterior)


Sim, os mancos. Chegaram mancando meus amigos de mais de dez anos que também estavam na prova: Raphael Bonatto e Leo Meira, o Bagre. Ambos haviam torcido o tornozelo durante a prova, coincidentemente, e decidiram ali por abandonar a competição, uma vez que daquele ponto era possível o resgate por carro.


Igualmente manco, mas por causa do joelho e em melhores condições, não largaria o osso assim não. Ali encontrei Pati Fontana que havia subido justamente para esse momento de compartilhar comigo a descida pelo estradão íngreme.


O joelho não incomodava mais, apenas transmitia uma certa insegurança para acelerar o tanto que eu gostaria. Mas só de estar ali na companhia da Pati já me deixava mais relaxado. Nesse momento,cruzar a linha de chegada era apenas questão de tempo.


Bastaria terminar o trecho mais inclinado do estradão, entrar na trilha final que leva à famosa Cachoeira do Perdidos e encarar uma enlameada trilha final que atravessava alguns riachos. A meta era chegar, inteiro, com saúde e com um cansaço aceitável, condizente com meu treinamento e com minha entrega na prova. Apto a desfrutar o pós prova e voltar bem para casa.


Assim foi. Pouco mais de 4h33 minutos de prova, posição 83 entre 165 que concluíram e 195 que largaram, bem melhor do que eu poderia imaginar. Eu calculava que levaria umas 5 horas…


Deixando um pouco a emoção e falando um pouco mais do aspecto técnico, deixo abaixo o que usei na prova. Lembro que comprando através dos links que coloco aqui no site, recebo uma pequena comissão. Seria muito importante contar com essa colaboração dos amigos leitores.


Tênis Hoka Speedgoat 2 (com uns 300km de uso).

Meias Nike Trail.

Shorts Evadict com bolsos.

Camisa Solo Ion Lite personalizada cascalho.cc / Procorrer.

Manguito Pearl Izumi Inverno.

Boné Nike Trail.

Óculos HB Edge.

Mochila Aonijie Ounergy 10L contendo 2 flasks de 500 ml para líquidos, 3 flasks de 170ml para semi sólidos, manta de emergência e jaqueta impermeável Salomon Bonatti (não precisei usar na prova).


Alimentação e hidratação:


Levei comigo 2 flasks de 170ml com DUX Energy Kick Melancia contendo 90g de carboidrato cada um e 1 flask também de 170ml com Z2 Power Powder Lime Zest contendo também 90g de carboidrato. Um flask de DUX voltou intacto.


Levei comigo também 10 tâmaras jumbos recheadas com pasta de amendoim e uma pitada de sal em cada. Consumi 8, retornei com 2.


Também levei 9 tabletes de mariola (goiabada com banana). Consumi todos.


A estratégia era consumir carboidratos a cada 20 minutos após a primeira hora de atividade, ou seja, 30g de carbo de fontes alternadas a cada 20 minutos. Nas horas “redondas”, Os suplementos Z2 ou DUX, nas horas “final 20” duas mariolas e nas horas “final 40” as tâmaras. Funcionou super bem.



Haviam 2 pontos de apoio na prova, nos quilômetros 6 e 18. No primeiro, com uma hora de prova, consumi um pouco de coca cola e duas paçoquitas. No segundo, antes da descida final, tomei quase meio litro de isotônico.


Em momento algum senti falta de energia ou desconforto gástrico. Mudaria algo? Talvez, mas aí é assunto para outro post.


A reposição hídrica ficou por conta de tentar manter pelo menos 500ml de água por hora. Bebi bastante água nos riachos que cruzamos,além daquela que eu carregava comigo e que repus nos pontos de apoio.


A estratégia de 90g de carboidrato por hora certamente me fez terminar a prova em ótimas condições e acelerar a recuperação nos dias subsequentes. Primeira vez que me sinto bem para correr já no dia seguinte a um esforço dessa magnitude.


Finalizo aqui meu relato, dividido em 4 partes para não sobrecarregar o estimado leitor, agradecendo a todos que tornaram possível eu estar presente neste evento.


Pati Fontana (esposa e parceira de vida), Danilo Pinheiro (sócio-organizador) e a todos os companheiros de treinos, especialmente nestes últimos, como a Vera Guimarães, o Caio Kozano, a Rose Kopczynski e à Mara Silva.


Muito obrigado e até 2024 nos 50K.









julho 20, 2023

Ultramaratona dos Perdidos 2023 - 25K (parte 3)

(continuação do post anterior)

Atingir o cume nunca é o final da jornada.

Como dizia o incrível montanhista de altitude  Ed Viesturs ainda nos anos 90, subir é opcional, descer é mandatório.. Vamos descer então.

E descer por trilha muito escorregadias, de um barro preto, traiçoeiro e já bastante pisoteado por dezenas de atletas que já haviam passado por ali antes de mim e que lidavam exatamente com as mesmas dificuldades. É onde o esporte nos iguala: o percurso e a distância são os mesmos.

A meu favor, alguma experiência nesse tipo de terreno, fruto das dezenas de vezes que já havia percorrido essas trilhas desde a primeira vez lá em 2003, quando conheci o Morro Araçatuba.

Já em desfavor… vários anos longe de competições de longas distâncias e um Ligamento Cruzado Anterior do joelho direito rompido em 2013 e que não foi reconstruído cirurgicamente por escolha pessoal após muita análise e conversa com dezenas de fisioterapeutas e médicos. Essa condição me leva a encarar as descidas técnicas com uma cautela muito maior do que eu gostaria. E nem sempre é garantia de passar ileso, sem intercorrências como um entosre de joelho, algo que é muito fácil de acontecer com alguém que não tenha esse importante ligamento que estabiliza a passada.

Dito e feito. Descendo controlado por vários minutos, tudo dentro da normalidade das condições, com alguns tombos e quedas que são absolutamente normais em condições tão adversas, em algum momento escorrego com pé esquerdo.

Ao me apoiar, no susto, com o pé direito o estalo no joelho é nitidamente audível por dois atletas que estavam comigo naquele trecho, onde eu, ingenuamente, achava tranquilo.

Vem a queda e uma dor lancinante, mas já velha conhecida. Eis a vantagem da experiência. Leitura mental em frações de segundos, deixando a dor vir e saboreando, fazendo imediatos cálculos mentais sobre quanto ainda faltava, se precisaria de resgate, de medicação, se a vida esportiva havia acabado entre outras negatividades.

Quem ali estava comigo ofereceu assistência imediata, bandagens, sprays analgésicos e principalmente suporte emocional. Com muita gratidão no coração, tranquilizei-os que eu já estava acostumado, que a dor se esvaía a cada segundo e que dentro de instantes eu conseguiria levantar e me locomover por meus próprios meios.

Assim foi, coisa de nem 5 minutos de respiração profunda e de organização das ideias, estava eu de volta à trilha e até mesmo ensaiando um trotinho nas descidas. Como que por um milagre, parece, o terreno se tornava menos hostil e muito, muito mais acolhedor.

Paisagens incríveis em um cenário deslumbrante, emoldurado por colinas cobertas ora por campos, ora por macega e com vales com capões de mata de altitude absolutamente intocados, repletos de flores silvestres.

Logo chegamos ao vale que separa o Morro do Araçatuba do Morro dos Perdidos e após uma sucessão de pequenos córregos de águas puríssimas e alguns banhados, hora de encarar a última subida da prova, felizmente muito menos íngreme que as anteriores. Mais curta também.

Assim chego ao cume do Perdidos, inclusive alcançando vários atletas que haviam passado por mim naqueles minutos de agonia anterior.

E lá estavam os mancos. Mas isso é história para o próximo post, onde farei a narração dos últimos seis quilômetros da Ultra dos Perdidos 25K 2023.